Mais votado na consulta interna da Associação dos Juízes Federais, juiz que conduz a maior operação já desfechada contra a corrupção diz que é 'uma grande honra' figurar na lista tríplice para a cadeira de Teori Zavascki
Ricardo Brandt | Estadão
O juiz Sérgio Moro disse nesta quarta-feira, 1, que a eleição interna da Associação dos Juízes Federais (Ajufe) que o colocou em primeiro lugar na lista tríplice para a cadeira do ministro Teori Zavascki indica o incentivo de seus pares à Lava Jato.
“Reflete o apoio dos magistrados federais aos trabalhos na Operação Lava Jato, o que é importante para se possa prosseguir”, declarou Moro, que recebeu 319 votos na consulta interna da principal entidada da toga federal.
Em segundo lugar na lista ficou o ministro Reynaldo Fonseca, com 318 votos. Em terceiro, o desembargador federal Fausto De Sanctis (165 votos). A Associação dos Juízes Federais pretende entregar a relação dos mais votados ao presidente Michel Temer, a quem cabe escolher o sucessor de Teori, que morreu no dia 19 de janeiro em acidente aéreo no mar de Paraty (RJ). “Foi uma grande honra figurar na lista tríplice ao lado de tão ilustres magistrados federais, como o ministro Reynaldo Fonseca e o desembargador Fausto de Sanctis, além de todos os demais previamente selecionados. Mais relevante, reflete o apoio dos magistrados federais aos trabalhos na Operação Lava Jato, o que é importante para que se possa prosseguir.”
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Projetos do presidiário receberam mais de R$10 bilhões na era PT
Cláudio Humberto | Diário do Poder
Os governos do PT abriram os cofres para financiar projetos do ex-bilionário Eike Batista, preso nesta segunda-feira (30) no Rio. Até 2013, ainda no primeiro governo Dilma, o BNDES beneficiou ao menos onze empresas do “Grupo EBX”, de Eike, num total de R$10,4 bilhões em financiamentos diretos. Outros negócios possibilitados pelos governos Lula e Dilma podem ter rendido ao menos R$20 bilhões ao empresário.
Eike ainda contava com as lorotas da cúpula do BNDES para explicar o dinheiro fácil, definindo os ativos da EBX como “sólidos e valiosos”.
O BNDES também utilizou recursos do FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, para bancar as aventuras de Eike Batista. Lula se utilizou do jatinho de Eike em viagens, e Dilma visitou a EBX, quando em discurso disse que o empresário é “orgulho do Brasil”. A ordem para financiar as aventuras de Eike com dinheiro público saía do Planalto, nos governos do PT, apesar dos sinais da derrocada. Preso nesta segunda, 30, ao chegar dos Estados Unidos, empresário havia alertado força-tarefa sobre concessões de empréstimos de banco estatal; em depoimento espontâneo, ele havia falado pela primeira em 'passar o Brasil a limpo'Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Mateus Coutinho | Estado de SP “Vocês que estão passando o Brasil a limpo, por favor, essa é uma área crítica.” O alerta foi sobre concessões de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O autor, o empresário Eike Batista, preso na manhã desta segunda-feira, 30, pela Polícia Federal, ao desembarcar no Rio, procedente dos Estados Unidos. A menção a “passar o Brasil a limpo” foi feita em maio de 2016, a dois procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, e repetida pelo empresário, na noite deste domingo, à uma equipe da Rede Globo, antes de embarcar em Nova York, para ser preso no Brasil.
“A Lava Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira fantástica. Eu digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente, tá certo?.” Limpo Foragido desde a quinta, 26, quando foi decretada sua prisão preventiva na Operação Eficiência, um desdobramento da Lava Jato, que apura repasse de US$ 16,5 milhões em propinas pelo empresário para o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), Eike é um dos novos candidatos a delator – mais de 20 negociações de colaboração premiada estão em andamento, em Curitiba. Ex-controlador do Grupo EBX, o empresário pode falar a investigadores sobre seus negócios na Petrobrás – em especial, sobre a exploração do pré-sal e também dos campos de gás – e expandir as apurações para outras áreas. Uma delas são as concessões de empréstimos do BNDES. O grupo foi um dos beneficiados com valores do banco, antes da falência. O ex-presidente da instituição, Luciano Coutinho, é alvo das investigações da Lava Jato, em Curitiba e Brasília. Oito meses atrás, Eike procurou espontaneamente a Lava Jato para falar sobre seus depósitos na conta secreta do marqueteiro do PT João Santana – preso meses antes, acusado de receber propinas da Odebrecht. O empresário alertou os procuradores sobre as concessões de empréstimos e os bens oferecidos como lastro oferecidos nas transações financeiras. “Você bota o que quiser (como garantia), uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares, é fácil né.” Eike procurou o Ministério Público Federal naquele dia 20 de maio de 2016 para falar sobre os contratos de construção das plataformas P-67 e P-70, vencidos pelo Consórcio Integra Offshore (formado pela Mendes Júnior e OSX Construção Naval) – negócios de US$ 922 milhões, assinado em 2012. O delator da Lava Jato, Eduardo Musa, que foi gerente da área responsável pelo contrato na Diretoria Internacional da Petrobrás, até 2009, e virou diretor da OSX – na época do negócio – falou sobre propina nesse contrato. O cerco contra Eike fechou quando seu nome apareceu associado á uma conta de empresa offshore – a Golden Rock Foundation -, que depositou valores na conta secreta do marqueteiro do PT. Eike decidiu então buscar a Laa Jato. Foi ouvido pelos procuradores da República Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha, da força-tarefa, em Curitiba. O empresário contou que repassou R$ 5 milhões para uma conta indicada pela mulher e sócia do marqueteiro do PT, Mônica Moura, a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido e Mantega – mas negou tratar-se de propina. O “depoimento espontâneo” de Eike livrou-o de ser preso na 34ª fase da Lava Jato (Operação Arquivo X), deflagrada em setembro de 2016, que levou para a cadeia o ex-ministro Mantega – solto no dia seguinte, pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba. No depoimento, o empresário afirmou que estava disposto a colaborar com as investigações. BNDES Antes de encerrar a oitiva, em maio, os procuradores perguntaram a Eike sobre os financiamentos públicos em seus negócios. “Olha, 2012, nós tínhamos recursos no BNDES. Sim. 10% do nosso…”, respondeu o empresário. “Eram empréstimos que eram garantidos por bancos privados e meus avais com todo meu patrimônio.” O empresário afirmou que sobre o BNDES, entregou todo o patrimônio como garantia. “Que negócio é esse?”, questionou Eike. “O dinheiro do BNDES deve ser investido, então a minha crítica, sinceramente, olhe para os outros que não deram seus avais pessoais, que ai que está a grande sacanagem”, advertiu Eike. Eike começou seu depoimento espontâneo agradecendo a oportunidade dada pelos procuradores da Lava Jato para “esclarecer” fatos e evitar “mentiras” publicadas. “Muito obrigado, obrigado pela atenção de vocês, o que eu vim esclarecer aqui é na verdade, não quero que de novo uma mídia errada proporcione dificuldades para minha pessoa, porque eu já constatei três mentiras repetidas três vezes na mídia que acabam virando uma verdade”, afirmou o empresário. Eike ficará preso em uma cela comum, reservada aos encarcerados da Justiça Federal, no presídio Ary Franco, no Rio. Se quiser buscar uma colaboração premiada com a Lava Jato, terá que negociar com pelo menos três forças-tarefas: a do Rio – que decretou sua prisão -, a de Curitiba e a de Brasília. Carlos Eduardo Sobral, presidente da principal entidade de classe dos delegados federais, observa que os alvos 'já têm conhecimento da investigação e são fatos um pouco mais antigos'
Mateus Coutinho, Fábio Serapião e Fausto Macedo | Estadão
Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, não há nenhuma razão para o sigilo das delações premiadas de 77 executivos, ex-executivos e funcionários da Odebrecht homologadas nesta segunda-feira, 30, pela presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia – ela manteve o sigilo da maior delação da Operação Lava Jato.
“No caso da delação (da Odebrecht), que os investigados já têm conhecimento da investigação e são fatos um pouco mais antigos, entendemos que não há razão nenhuma para manter o sigilo das delações”, afirmou Sobral ao Estadão.
ADPF é a principal entidade de classe dos delegados da PF. O delegado Sobral vê nas delações dos executivos e ex-funcionários da empreiteira uma oportunidade de trazer a publico ‘e em detalhes como o Brasil funcionou nas últimas décadas’. Ele considera ser difícil a interferência política nas investigações. “Com certeza quem é investigado tem a tendência natural de interferir de alguma forma”, disse. Confira a entrevista ESTADÃO: Para a Associação dos Delegados da PF qual é a importância da homologação das delações? DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL CARLOS EDUARDO SOBRAL: Trazer a público toda a forma de fazer negócio público no País nas ultimas décadas. A gente vê é que havia, espero que acabe, uma relação promíscua entre o poder público e as grandes empresas no País, ora para financiar estrutura partidária seja através de doações de caixa 1 ou caixa 2, ora para prática de corrupção visando enriquecimento ilicito dos agentes envolvidos. Acho que essas delações vão trazer a público em detalhes como o Brasil funcionou nas últimas décadas. ESTADÃO: Qual a importância do sigilo dos processos? DELEGADO SOBRAL: O sigilo na investigação criminal tem como fundamento a preservação da busca da prova, isto é, se o investigado tomasse conhecimento da investigação ele poderia ocultar a prova. No caso da delação (da Odebrecht), que os investigados já têm conhecimento da investigação e são fatos um pouco mais antigos, entendemos que não há razão nenhuma para manter o sigilo. ESTADÃO: Qual o maior desafio para as investigações da PF na Lava Jato neste momento? DELEGADO SOBRAL: De forma mais sintética, a investigação envolvendo pessoas não detentora de foro, ou seja no 1.º grau, chega quase ao seu fim e agora passa-se a investigar fatos envolvendo detentores de foro. Agora, a competência que era da 13.ª Vara (juiz Sérgio Moro) está quase que toda no Supremo, e temos dificuldade de fazer uma investigação junto a um Tribunal que não tem como natureza, como sua razão de existir, a instrução de prova ou o próprio julgamento de ações criminais, ainda mais envolvendo uma quantidade grande de pessoas como é o caso dessas delações. Mas tenho certeza que essa dificuldade vai ser superada com o esforço da PF e do próprio Tribunal em dar andamento às investigações. ESTADÃO: Vê algum risco de interferência política nas investigações que devem se ampliar a partir da delação? DELEGADO SOBRAL: Com certeza quem é investigado tem a tendência natural de interferir de alguma forma. Mas, tanto o Tribunal quanto a PF vão se valer de todos os meios, com o olhar da imprensa bem próximo e de toda a sociedade. O risco de uma interferência na Lava Jato é muito pequeno. Nós temos o risco de interferência institucional por falta da nossa autonomia em relação ao governo, mas no caso especifico de uma investigação o risco de haver interferência é muito pequeno. Sabemos que hoje o que interfere é tirar o recurso da PF, não realizar concursos, assim se esvazia a instituição. Mas, no caso de uma investigação específica é feito um reforço especial para que não falte nenhum recurso naquela investigação mesmo que para isso seja necessário comprometer outras tantas investigações. ESTADÃO: Como tem sido a queda no orçamento da PF nos últimos anos? DELEGADO SOBRAL: Nosso orçamento vem caindo ano após ano. No ano passado não foi diferente. Com isso acabamos tendo menos recursos para investimentos. E menos recursos para investimento são menos operações, menos unidades, menos investigações. Essa é uma realidade que a Polícia Federal vem sofrendo. Atrapalha nossas investigações por causa de falta de autonomia. Deputado peemedebista, voz solitária na defesa do ex-presidente da Câmara, usou verba da cota parlamentar para se deslocar a Curitiba, onde o amigo está preso por ordem de Moro
Mateus Coutinho e Fausto Macedo | Estadão
O deputado Carlos Marun (PMDB/MS) vai ter que devolver R$ 1.242,62 à Câmara, dinheiro que gastou para fazer uma ‘visita natalina’ ao amigo Eduardo Cunha (PMDB/RJ) na prisão da Lava Jato. O dinheiro foi usado por Marun para se deslocar a Curitiba e se hospedar na capital paranaense, onde o amigo está preso por ordem do juiz federal Sérgio Moro.
A viagem ocorreu na véspera do Natal, informou o jornal O Globo.
Marun foi a voz solitária na Câmara em defesa do colega que é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014. O parlamentar pagou as passagens e a hospedagem com verba da cota para exercício da atividade parlamentar. Esse recurso só pode ser usado para cobrir despesas efetivamente relacionadas ao mandato. Marun alega que sua visita a Eduardo Cunha não teve intuito político e que fez apenas uma ‘visita natalina’.
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Justiça mantém audiência de processo em que Eike Batista é acusado de manipulação de mercado31/1/2017 Testemunhas serão ouvidas no próximo dia 21 sobre uso de informações privilegiadas na negociação de ações da OSX
Mariana Sallowicz | O Estado de S.Paulo
RIO - A Justiça manteve para o próximo dia 21 uma audiência do processo em que Eike Batista - preso ontem na Operação Eficiência - é acusado dos crimes de manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas (insider trading) na negociação de ações da empresa de construção naval do grupo, a OSX.
A ação penal tramita na 3ª Vara Federal Criminal do Rio, enquanto a prisão preventiva de Eike foi pedida pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio.
É prevista a oitiva de testemunhas no dia 21. Já na última audiência do caso, em 13 de dezembro de 2016, Eike não esteve presente. O empresário foi dispensado de participar após pedido feito pela defesa. O fundador da EBX é acusado de tentar se proteger da desvalorização de ações da OSX, em prejuízo de acionistas. Em operações realizadas em 19 abril de 2013, Eike vendeu quase 10 milhões de papéis da OSX, cotados a R$ 3,40, em uma transação de R$ 33,7 milhões. Presente da elite que montou um esquema monstruoso de fraudes contrasta com as facilidades e o luxo de que gozavam antes de serem presos
France Presse
Os outrora todo-poderosos da política brasileira e agora presos da Operação Lava-Jato oferecem um cruel retrato da desolação que acarreta a perda do poder e da liberdade.
Reclusos no Complexo Médico Penal de Curitiba, ex-ministros, ex-deputados, empresários e ex-diretores da Petrobras passam seu tempo em uma cela de 12 m2 compartilhadas por três pessoas.
Obrigados a longos períodos de silêncio e sem direito a visitas íntimas, as duas horas diárias de banho de sol e uma televisão de 20 polegadas suavizam a dura realidade presente de homens todo-poderosos como José Dirceu, ex-chefe de gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), ou Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara de Deputados e cérebro do impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. Ter diploma de curso superior os protege de ter de partilhar sua estada com marginais comuns, uma vantagem com que não contará o empresário Eike Batista, que já se encontra preso, com a cabeça raspada, no complexo penitenciário carioca de Bangu. O presente dessa elite que montou um esquema monstruoso de subornos e fraudes para financiar campanhas, se perpetuar no poder e enriquecer pessoalmente contrasta com as facilidades e o luxo de que gozavam antes de serem presos. E o impacto é cruel. "Todos levam um tempo para se adaptar e podem sofrer de depressão. Se pedem tratamento psicológico, fornecemos para que tomem consciência do momento que vivem: estão presos e já não importa a condição social que tinham lá fora", explicou o chefe do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Luiz Moura. "São internos e são tratados como tais", acrescentou. Trabalhando na prisão Os trabalhos remunerados, quando disponíveis, fazem parte do processo de reabilitação. Dirceu, que provavelmente seria o sucessor de Lula, chegou ao Complexo Médico Penal de Curitiba depois de condenado por receber ilegalmente US$ 3,12 milhões. Dono de uma biografia cinematográfica, que inclui um exílio em Cuba, onde recebeu treinamento militar, é um dos oito presos da "Lava-Jato". Está pagando 20 anos e 10 meses na galeria 6, de "recursos especiais" com diploma, onde entrega livros para outros presidiários em troca de 45 reais por mês, sem contar os 25% descontados pelo Estado para reinvestir no sistema. "Não é um trabalho de bibliotecário porque ele não tem habilitação para isso. É apenas um distribuidor de livros, ele os entrega nas celas, os traz de volta, os ordena nas estantes e faz a limpeza e conservação. Depois faz um relatório para os professores", explica Moura. Os presos podem, além disso, reduzir quatro dias de condenação por livro lido - um por mês, no máximo - graças a um programa que exige que façam um teste ante os professores do presídio. Se a avaliação for negativa, o perdão não é computado. Poucas opções Já Eduardo Cunha - que ganhou o apelido de Frank Underwood brasileiro, o personagem manipulador da série "House of Cards", ainda não tem emprego por estar em prisão preventiva. "Há um número reduzido de trabalhos e priorizo os que já estão condenados. Enquanto os outros vão trabalhar, e ele não tem nada o que fazer, fica lendo seu processo", conta Moura. Os ex-deputados André Vargas (do PT, condenado a 14 anos e quatro meses) e João Argolo (do Solidariedade, 11 anos e 11 meses), assim como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (mais de 30 anos) se ocupam de limpar o pavilhão que os presos da "Lava-Jato" compartilham com ex-policiais e outros profissionais. Já foram 22, além dos que estão alojados na Polícia Federal, e atualmente são oito, entre eles o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht. Antes de confessar seus ilícitos em troca da redução de seus 19 anos e quatro meses de prisão, o dono da construtora que leva seu nome passou por esse complexo. "Era extremadamente disciplinado. Estabeleceu uma rotina de exercícios e a cumpria. Enquanto todos tomavam sol ou conversavam, ele corria", recordou Moura. Os outrora todo-poderosos da política brasileira e agora presos da Operação Lava Jato oferecem um cruel retrato da desolação que acarreta a perda do poder e da liberdade.
France Presse
Reclusos no Complexo Médico Penal de Curitiba, ex-ministros, ex-deputados, empresários e ex-diretores da Petrobras passam seu tempo em uma cela de 12 m² compartilhadas por três pessoas.
Obrigados a longos períodos de silêncio e sem direito a visitas íntimas, as duas horas diárias de banho de sol e uma televisão de 20 polegadas suavizam a dura realidade presente de homens todo-poderosos como José Dirceu, ex-chefe de gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), ou Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara de Deputados e cérebro do impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.
Ter diploma de curso superior os protege de ter de partilhar sua estada com marginais comuns, uma vantagem com que não contará o empresário Eike Batista, que chegou a ter uma fortuna de 30 bilhões de dólares e está detido desde a segunda-feira no complexo penitenciário carioca de Bangu, aonde entrou com a cabeça raspada. O presente dessa elite que montou um esquema monstruoso de subornos e fraudes para financiar campanhas, se perpetuar no poder e enriquecer pessoalmente contrasta com as facilidades e o luxo de que gozavam antes de serem presos. E o impacto é cruel. “Todos levam um tempo para se adaptar e podem sofrer de depressão. Se pedem tratamento psicológico, fornecemos para que tomem consciência do momento que vivem: estão presos e já não importa a condição social que tinham lá fora”, explicou à AFP Luiz Moura, chefe do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen). “São internos e são tratados como tais”, acrescentou. Trabalhando na prisão Os trabalhos remunerados, quando disponíveis, fazem parte do processo de reabilitação. Dirceu, que provavelmente seria o sucessor de Lula, chegou ao Complexo Médico Penal de Curitiba depois de condenado por receber ilegalmente 3,12 milhões de dólares. Dono de uma biografia cinematográfica, que inclui um exílio em Cuba, onde recebeu treinamento militar, é um dos oito presos da “Lava Jato”. Está pagando 20 anos e 10 meses na galeria 6, de “recursos especiais” com diploma, onde entrega livros para outros presidiários em troca de 45 reais por mês, sem contar os 25% descontados pelo Estado para reinvestir no sistema. “Não é um trabalho de bibliotecário porque ele não tem habilitação para isso. É apenas um distribuidor de livros, ele os entrega nas celas, os traz de volta, os ordena nas estantes e faz a limpeza e conservação. Depois faz um relatório para os professores”, explica Moura. Os presos podem, além disso, reduzir quatro dias de condenação por livro lido – um por mês, no máximo – graças a um programa que exige que façam um teste ante os professores do presídio. Se a avaliação for negativa, o perdão não é computado. Poucas opções Já Eduardo Cunha – que ganhou o apelido de Frank Underwood brasileiro, o personagem manipulador da série “House of Cards”, ainda não tem emprego por estar em prisão preventiva. “Há um número reduzido de trabalhos e priorizo os que já estão condenados. Enquanto os outros vão trabalhar, e ele não tem nada o que fazer, fica lendo seu processo”, conta Moura. Os ex-deputados André Vargas (do PT, condenado a 14 anos e quatro meses) e João Argolo (do Solidariedade, 11 anos e 11 meses), assim como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (mais de 30 anos) se ocupam de limpar o pavilhão que os presos da “Lava Jato” compartilham com ex-policiais e outros profissionais. Já foram 22, além dos que estão alojados na Polícia Federal, e atualmente são oito, entre eles o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht. Antes de confessar seus ilícitos em troca da redução de seus 19 anos e quatro meses de prisão, o dono da construtora que leva seu nome passou por esse complexo. “Era extremadamente disciplinado. Estabeleceu uma rotina de exercícios e a cumpria. Enquanto todos tomavam sol ou conversavam, ele corria”, recordou Moura. Depois de três dias foragido, empresário Eike Batista, que já foi o sétimo mais rico do mundo, é detido ao desembarcar e enviado para complexo penitenciário no Rio
Paulo Nogueira | Estado de Minas
Da revista Forbes, como o sétimo homem mais rico do mundo em 2012 (US$ 30 bilhões), para as manchetes criminais cinco anos depois. De Nova York para uma cela de 15 metros quadrados, com três beliches de concreto, sem vaso sanitário e um cano de água fria como chuveiro, em Bangu 9.
Ele está em cela comum no Presídio Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9. A unidade abriga os presos de “faxina”, aqueles que fazem o trabalho interno nos presídios.
Em Bangu 9, Eike terá direito a duas horas de banho de sol e café com lei e pão com manteiga no café da manhã. Os detentos almoçam arroz ou macarrão, feijão, carne, frango ou peixe, salada, refresco e fruta ou doce de sobremesa. O lanche tem suco e bolo. O empresário terá direito a visitas depois que seus familiares fizerem a carteirinha de cadastro, que demora, em média, 15 dias para ficar pronta. Cada preso recebe duas visitas por semana. Depois de três dias foragido, após ter sua prisão preventiva decretada, o empresário Eike Batista foi preso nesta segunda-feira ao chegar da cidade americana. Ele foi detido às 10h30, assim que a aeronave pousou na pista do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), vinda de Nova York. A tranquilidade do executivo surpreendeu os demais passageiros. O cantor João Senísio, que passava férias em Nova York, contou que Eike não demonstrou nervosismo durante o voo e parecia não se preocupar com o fato de ser preso. “Ele dormiu a maior parte da viagem e pareceu estar bem tranquilo. A impressão que tivemos é que ele não teme ser preso. Antes de entrar no avião, tirou fotos com pessoas que estavam no saguão do aeroporto. Dentro do avião, ele se sentou em uma fileira sem ninguém ao lado, na classe executiva. O avião não tinha espaço destinado para a primeira classe”, informou o artista. Do Galeão, Eike foi levado para a sede do Instituto Médico Legal, no Centro, para exame de corpo de delito. Em seguida, foi com escolta policial para o Presídio Ary Franco, em Água Santa, na Zona Norte. Passou por triagem e teve a cabeça raspada, mas, por questão de segurança, acabou transferido para uma unidade do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste. Uma fonte informou que a própria Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) entendeu que o empresário deveria ir para um lugar mais seguro do que o Ary Franco. Em meados de janeiro, o presídio Bandeira Stampa precisou ser esvaziado temporariamente para receber milicianos e ex-PMs que foram transferidos para lá. Eles deixaram Bangu 6 em uma medida da Seap para evitar confrontos entre facções e milícias dentro do presídio e acalmar os detentos. Com a mudança, apenas traficantes ficaram. Os outros detidos nos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio, como o ex-governador Sérgio Cabral, foram encaminhados para Bangu 8 por terem diploma universitário, mas Eike não concluiu sua formação em engenharia. Propina Eike estava foragido desde quinta-feira, quando a Polícia Federal tentou cumprir um mandado de prisão preventiva contra ele, como parte da Operação Eficiência, que investiga esquema de corrupção montado pelo ex-governador Sérgio Cabral. O empresário é investigado por um suposto repasse de US$ 16,5 milhões em propina a Cabral. O ex-bilionário deixou o Brasil dois dias antes da operação da PF, no dia 24. A prisão dele estava decretada pela Justiça do Rio desde 13 de janeiro. O advogado de Eike, Fernando Martins, chegou ao Ary Franco antes do comboio da Polícia Federal que levava o empresário. Segundo Martins, ele ainda discutiria com agentes da polícia e Ministério Público Federal para determinar quando o empresário prestará depoimento. Martins disse que conversaria com seu cliente e tomaria ciência da situação do Eike para decidir a estratégia de defesa. “Estamos tomando as medidas jurídicas cabíveis no sentido de preservar a integridade física dele. A prioridade é preservar a integridade física dele. Não por se tratar do Ary Franco, mas de qualquer instituição”, declarou Martins. A LIMPO “A Lava-Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira fantástica. Digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente. Porque você vai pedir suas licenças (para obras), vai passar pelos procedimentos normais, transparentes, e, se você for melhor, você ganhou e acabou a história”, afirmou Eike à Rede Globo, ainda no aeroporto de Nova York. Indagado sobre se tinha receio ao chegar ao Brasil, ele disse. “Não, estou à disposição da Justiça, como um brasileiro cumprindo o meu dever. Estou voltando, essa é a minha obrigação.” Quanto à sua perda de liberdade, afirmou: “Olha, aquele negócio, se foram cometidos erros, você tem que pagar pelos erros que fez. É assim, né?” “Você cometeu erros? perguntou o repórter. “Acho que não”, respondeu o empresário. “Eles (Polícia Federal e Procuradoria da República) o acusam de pagar propinas.Você vai admitir? “Como falei, não posso passar isso para ningiuém antes. Não fica legal.” (Com agências) Os criminalistas também atuam na defesa do empresário Eike Batista
Agência Estado
Rio de Janeiro, 31 - Oito advogados que representavam o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho em ação penal na 7ª Vara Federal Criminal do Rio renunciaram da defesa do peemedebista alegando "conflito de interesses". Os criminalistas também atuam na defesa do empresário Eike Batista - outro alvo dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio - em processos na Justiça. O documento no qual renunciam foi entregue na segunda-feira, 30, à Justiça.
A defesa de Cabral era encabeçada pelos criminalistas Ary Bergher e Raphael Mattos, sócios do escritório Bergher & Mattos. Os dois também representam o empresário Eike Batista em outros processos na Justiça, como a ação penal que tramita na 3ª Vara Federal Criminal do Rio. Nela, o fundador do grupo é acusado dos crimes de manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas (insider trading) na negociação de ações da empresa de construção naval do grupo, a OSX.
De acordo com publicação do dia 27 do Blog do Fausto Macedo, o peemedebista vinha conversando com seus advogados sobre a possibilidade de fechar um acordo de delação e havia fechado a troca de Ary Bergher pelo criminalista Sérgio Riera. Riera foi responsável pela delação premiada na Lava Jato de Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos na Diretoria Internacional da Petrobras. À época, o advogado negou ter sido contratado por Cabral. Segundo ele, seu trabalho, atualmente, estava relacionado somente à defesa da ex-mulher de Cabral Susana Neves Cabral. Ela foi alvo de condução coercitiva na Operação Eficiência, assim como Eike. Cabral foi preso em novembro de 2016. O ex-governador do Rio é alvo da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio. |
AutorLuiz Maia Histórico
Julho 2017
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