O jantar não foi informado na agenda oficial do presidente nem dos ministros.
Naira Trindade | O Estado de S.Paulo
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, serviu um jantar em sua casa para o presidente Michel Temer e os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha na noite desta terça-feira, 27.
Oficialmente, o Planalto diz que o encontro já estava marcado há muito tempo e era para tratar de reforma política. Mas o jantar não foi informado na agenda oficial do presidente nem dos ministros.
Um dia após o encontro, porém, Temer decidiu escolher a subprocuradora Raquel Dodge para suceder Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República. A escolha dela tem o aval de Gilmar Mendes.
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Michel Temer (PMDB) indicou doações de R$ 20 mi com dinheiro do FI-FGTS, afirma Lúcio Funaro20/6/2017 Em depoimento no inquérito sobre o presidente, corretor afirma que operações na Caixa geraram recursos para as campanhas de 2012 e 2014; peemedebista não comenta relatório
Fábio Serapião e Luiz Vassallo | O Estado de S.Paulo
O corretor Lúcio Bolonha Funaro disse, em depoimento à Polícia Federal, que o presidente Michel Temer fez uma “orientação/pedido” para que uma “comissão” de R$ 20 milhões proveniente de duas operações do Fundo de Investimento do FGTS fosse encaminhada para a sua campanha presidencial de 2014 e, também, para a de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012. As operações no FGTS eram relacionadas às empresas LLX e BRVias e são investigadas na Operação Sépsis, na qual Funaro foi preso, em julho de 2016.
O depoimento de Funaro, prestado no dia 14 deste mês, foi anexado ao relatório parcial do inquérito que investiga Temer por suposta prática de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, enviado na segunda-feira, 19, pela PF ao Supremo Tribunal Federal.
O corretor afirmou que ouviu do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que havia “conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato das plataformas entre a Petrobrás Internacional e o Grupo Odebrecht”. Em seu relato, o corretor citou ainda repasses para dois aliados de Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. De acordo com Funaro, Geddel teria recebido cerca de R$ 20 milhões por “operações” na Caixa – o peemedebista foi vice-presidente de Pessoa Jurídica. Já Moreira Franco teria recebido comissões pela sua atuação à frente da vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, em 2009. “O declarante pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco, os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento”, disse o corretor à PF. ‘Vigor’ O relatório parcial, com 600 páginas, tornado público nesta terça-feira, 20, afirma que, pelos elementos reunidos na investigação, “são incólumes as evidências” da prática de corrupção passiva por parte de Temer e de seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures. O documento indica recebimento “com vigor” de “vantagem indevida”. A PF solicitou mais prazo para a conclusão do inquérito, que deverá servir de base para a possível denúncia a ser oferecida nos próximos dias pela Procuradoria-Geral da República. No documento encaminhado ao Supremo, a PF argumenta que o próprio Temer confirmou em discurso público ter indicado seu ex-assessor como interlocutor para o empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, dono da JBS. Loures foi flagrado, em ação controlada da PF, levando uma mala de R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS. No discurso, Temer disse: “Não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias”. Para a PF, a indicação foi confirmada no discurso. “A premissa básica para o entendimento deste particular reside, justamente, no trecho do diálogo (…) em que, ao ser questionado por Batista sobre o canal de comunicação a ser adotado a partir de então – em substituição a Geddel – o Exmo. Sr. Presidente da República indicou, nitidamente, “Rodrigo”, ou seja, Rodrigo Rocha Loures”, diz o relatório sobre o áudio gravado por Joesley. Para confirmar que Geddel era o antigo interlocutor de Temer, a PF ainda usou os depoimentos de Funaro e do diretor Jurídico do Grupo J&F, Francisco de Assis e Silva. Em Moscou, onde cumpre agenda oficial, Temer evitou comentários sobre o relatório parcial da PF que encontrou indícios de corrupção passiva envolvendo seu nome. “Vamos esperar. Isso é juízo jurídico, não é juízo político. E eu não faço juízo jurídico”, disse nesta terça-feira, 20. Procurados, Geddel e Moreira não foram localizados. O espaço está aberto para manifestações. COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA, ADVOGADO DE MICHEL TEMER “Não vamos responder, pois na verdade um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações e não uma peça acusatória. Autoridade policial não acusa, investiga.” COM A PALAVRA, MOREIRA FRANCO O ministro Moreira Franco nega envolvimento e irregularidades e, por meio de nota, fez críticas a Lucio Funaro. “Que País é esse, em que um sujeito com extensa folha corrida tem crédito para mentir? Não conheço essa figura, nunca o vi. Ele terá que provar o que está dizendo. Isso é a mostra da inconsequência dos tempos que vivemos”, afirmou o ministro. Tribunal reúne 3 ações questionando edição de 2ª MP que confere status de ministro
Luiz Orlando Carneiro | JOTA
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ajuizou no Supremo Tribunal Federal, nesta segunda-feira (5/6), ação de inconstitucionalidade (ADI 5.717), com pedido urgente de concessão de liminar, contra a Medida Provisória 782/2017, que manteve o status de Ministério para a Secretaria-Geral da Presidência da República, ocupada por Moreira Franco.
Esta é a terceira ação do mesmo tipo e com o mesmo objetivo em tramitação no STF. A primeira foi protocolada pelo partido Rede Sustentabilidade na semana passada (ADI 5.709), e a segunda (ADI 5.716) pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), neste fim de semana.
Todas elas estão, por prevenção, sob a relatoria da ministra Rosa Weber, que foi sorteada para a ação da Rede. Ela deu prazo de cinco dias úteis à Câmara dos Deputados e ao Senado para as informações necessárias, e de três dias, sucessivamente, à Advocacia Geral da União e à própria PGR para os pareceres de praxe. Razões da PGR Os argumentos apresentados pelos autores das ações são similares, e foram assim resumidos pelo procurador-geral Rodrigo Janot: “Revogação de medida provisória e reedição de seu conteúdo por medida idêntica configura evidente burla à ordem constitucional, em especial aos arts. 2º e 62, caput e parágrafo 10º. Prolongam-se, por esse artifício, os efeitos de norma, que perderia eficácia por ausência de apreciação pelo Congresso Nacional, no prazo constitucional estipulado. A Constituição da República não confere tal prerrogativa ao chefe do Executivo. A CR prevê remédio específico para a perda de eficácia de medida provisória por decurso de prazo e confere ao Congresso dever de editar decreto legislativo para dispor sobre as relações jurídicas decorrentes (CR, art. 62, parágrafo 3º). Não cabe ao Presidente da República reeditar medida provisória na mesma sessão legislativa, a fim de evitar sua caducidade e impedir regulamentação pelo Legislativo das relações jurídicas decorrentes”. No pedido de medida cautelar, o chefe do Ministério Público argumenta: “Os requisitos para concessão de medida cautelar estão presentes. Sinal de bom direito (fumus boni juris) está suficientemente caracterizado pelos argumentos deduzidos nesta petição inicial e pelos precedentes do Supremo Tribunal Federal já citados, que julgaram inconstitucionais reedições de medida provisória na mesma sessão legislativa. Perigo na demora processual (periculum in mora) decorre da grave afronta à ordem constitucional e à autonomia do Legislativo. Preservação dos efeitos da norma permitirá manter criação dos cargos de Ministro de Direitos Humanos e de Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, indevidamente assegurando a seus ocupantes, entre outras prerrogativas, foro por prerrogativa de função (‘foro privilegiado’) no Supremo Tribunal Federal. Isso, por sua vez, fere os princípios republicano e da igualdade, entre outros. É necessário, portanto, que seja o mais rapidamente possível suspensa em sua eficácia a disciplina inconstitucional, e ao final, invalidada por decisão definitiva da Suprema Corte. Por conseguinte, além de sinal de bom direito, há premência em que o tribunal conceda medida cautelar para esse efeito”. Na ADI 5.709, a Rede Sustentabilidade sustentou que a MP 782/2017 teve o claro objetivo de dar a Moreira Franco a proteção do foro privilegiado, já que ele é citado nas delações dos diretores da Odebrecht no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. De acordo com a ação protocolada no STF (ADI 5.709), o Executivo não pode reeditar uma medida anterior – a de nº 768, responsável pela recriação do ministério -, por se tratar do mesmo tema. A MP ainda não foi votada no Congresso desde quando foi enviada pelo Executivo, em fevereiro. O texto deve perder a validade nesta semana. Além disso, o processo de autoria da REDE destaca que a MP 768 também foi questionada judicialmente na ocasião em razão das acusações que pesam contra o ministro escolhido pelo presidente Michel Temer. Joesley Batista conta que acertou propina de R$ 50 milhões para Michel Temer
Diário do Poder
As denúncias mais devastadoras do empresário Joesley Batista contra Michel Temer e o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) não estão nas gravações de áudio já divulgadas, mas no conteúdo do chamado “Anexo 9” da delação do presidente do Grupo JBS, cujo principal alvo é o presidente.
Em seu depoimento a procuradores, gravado em vídeo, Joesley conta, por exemplo, que acertou com Lourdes o pagamento de propina de R$ 50 milhões para o presidente Temer, caso obtivesse uma liminar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça, que retirasse da Petrobras a exclusividade no fornecimento de gás para uma termelétrica do grupo. Ele deixa claro que não tratou do assunto com Temer, mas com Loures, considerado da "estrita confiança" do presidente.
Os depoimentos de Joesley, obtidos pelo site Antagonista, estão resumidos em três páginas que compõem o Anexo 9, nos quais ele conta que conheceu Temer por meio de Wagner Rossi, na ocasião ministro da Agricultura do governo Dilma Rousseff. Rossi apresentou-se ao empresário como afilhado e que operava com Temer no porto de Santos. Joesley contou que em 2010 atendeu a um primeiro pedido do então vice-presidente Michel Temer fazendo pagamentos no valor total R$3 milhões, sendo R$1 milhão por meio de doação oficial e R$2 milhões para pagamento dos serviços da agência de marketing político Pública, contra a apresentação das notas fiscais de números 149 e 155. O presidente da JBS relatou aos procuradores da Lava Jato que em agosto e setembro de 2010, a pedido de Temer, concordou em pagar R$240 mil a outra empresa, Ilha Produções, por meio das notas fiscais de numeros 63, 64 e 65. Mensalinho de R$100 mil Joesley Batista contou que estreitou relacionamento e esteve com Temer em “múltiplas ocasiões”, não menos de vinte vezes, em seu escritório de advocacia, em sua casa ou no Palácio Jaburu. Segundo seu relato, ele tinha interesse na federalização do sistema de inspeção animal e quando em agosto de 2011 Wagner Rossi pediu demissão do Ministério da Agricultura em meio a denúncias de irregularidades, Temer pediu-lhe, sem rodeios, uma mensalinho de R$100 mil e mais R$20 mil para uma pessoa de nome Hamilton Hortolan. Esses pagamentos, afirmou o empresários, foram realizados “dissimuladamente” por cerca de um ano. Em 2012, na campanha para a prefeitura de São Paulo, Temer pediu a Joesley uma doação de R$3 milhões à campanha de Gabriel Chalita. O dinheiro, diz ele, foi pago por caixa 2, mas ele menciona a emissão de notas fiscais que prometeu depois entregar às autoridades. Relacionamento estreito O relacionamento se estreitou e ficou claro para Joesley Batista que Temer, na época vice-presidente, já “operava em aliança” com Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Eduardo Cunha. Reunião realizada um pouco antes do impeachment de Dilma, diz Joesley, Temer pediu R$300 mil para estruturar um serviço destinado a responder os ataques que vinha sofrendo na internet. Ele estava sendo “duramente atacado no ambiente virtual”, diz o empresário. Por indicação de Temer, ele chamou à sua casa o marqueteiro Elsinho Mouco, responsável por esse serviço de respostas, pagando-lhe R$300 mil em espécie. Geddel virou o cara Nessa época, Joesley se aproximou de Geddel, inaugurando um “canal de inlocução”, para o encaminhamento de suas demandas ao presidente Temer, como por exemplo um pedido para que ele interviesse no BNDES a fim de que o banco não vetasse a transferência da sede da JBS para o exterior. Ministro da Secretaria de Governo, Geddel buscava atualização constante sobre a situação de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, sabedor que Joesley “provia ao sustento de ambos”. Geddel temia que Cunha e Funaro se tornassem delatores. O ministro sempre perguntava ao empresário: “E o passarinho, está calmo?” Rocha Loures: batom na cueca Após a demissão de Geddel Vieira Luma, o delator Joesley Batista se viu com dificuldades na interlocução com o governo e procurou o deputado Rodrigo Rocha Loures, iniciando uma troca de mensagens. Ele conta que no sábado 4 de março deste ano, em uma mensagem de áudio por whatsapp, Loures se refere a Temer como “chefe”. Joesley se encontrou com o deputado no Hotel Fasano, em São Paulo, no dia 6 de março durante um jantar no qual acertaram encontro com o presidente Michel Temer para o dia seguinte, 7 de março – quando se deu a reunião que seria gravada pelo empresário. Loures enviou mensagens de texto com orientações sobre o encontro, durante o qual Joesley oerguntou a Temer para indicar um interlocutor autorizado a tratar assuntos do interesse de ambos. Temer indicou Loures, dizendo tratar-se de pessoa de sua “mais estrita confiança”. Enquadrando Meirelles Nessa conversa gravada, Joesley pediu a Temer para fazer gestões junto ao ministro Henrique Meirelles (Fazenda) para informá-lo de que assuntos de interesse do Grupo JBS seriam também do interesse dele, Temer. O empresário até exemplificou, citando assuntos relativos ao Cade, à CVM e ao BNDES. Tráfico de influência no Cade Em 13 e 16 de março últimos, Joesley e Loures trocaram visitas em suas respectivas casas, oportunidade em que o empresário pediu a interferência do deputado junto ao Cade precisava obter uma limiar, no órgão, retirando da Petrobras a exclusividade no fornecimento de gás para a termelétrica do grupo. Lourdes ligou para uma pessoa de nome Gilvandro (Vasconcelos Coelho de Araújo), conselheiro e presidente interino do Cade, referido pelo deputado como “um dos nossos meninos”. Propina de R$50 milhões Após ouvir de Loures que poderia falar com ele sobre assuntos “sensíveis”, na condição de homem de confiança de Temer, Joesley propôs um negócio que resultaria no pagamento de uma propina no valor de R$50 milhões para Temer. Na sua linguagem, Joesley prometeu a Loures que, se obtivesse a pretendida liminar no Cade, abriria a planilha, creditando em favor de Temer 5% do lucro, correspondentes a R$50 milhões, Loures aceitou a oferta, segundo ele. ´ Joesley Batista prometeu lançar mais créditos na planilha na medida em que a interferência de Temer e Lourdes em favor do grupo fossem bem sucedidas, em negócios como energia de longo prazo e destravamento das concessões de crédito do PIS e COFINS, com débitos de INSS. Loures também aquiesceu. O ministro da Casa Civil é citado em dois inquéritos autorizados pelo STF. Defesa de Padilha disse que só falará nos autos.
Por G1
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é suspeito de cobrar propinas em nome do PMDB e do presidente Michel Temer para financiar campanhas eleitorais, segundo inquérito autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Padilha teria recebido, em duas ocasiões, ao menos R$ 8 milhões.
A defesa do ministro, representada pelo criminalista Daniel Gerber, afirma que todo e qualquer conteúdo de investigações será debatido exclusivamente dentro dos autos.
Fachin autorizou as investigações a partir do pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A PGR fez o pedido com base nas delações dos ex-executivos da Odebrecht. Na primeira investigação, com base na delação feita por Paulo Cesana, ex-presidente da Odebrecht Transport, Padilha teria recebido um pagamento de R$ 4 milhões de Paulo Henrique Quaresma, após pedido feito à Odebrecht por Moreira Franco, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência - então ministro da Aviação Civil. A Odebrecht queria garantir clausulas para uma rodada de concessão de aeroportos. O ministro da Casa Civil também teria participado de um jantar com Marcelo Odebrecht e Temer no Palácio do Jaburu, no qual teria solicitado o repasse de R$ 10 milhões para a campanha eleitoral. O valor seria dividido em R$ 6 milhões para Paulo Skaf e R$ 4 milhões para Padilha. Em um segundo inquérito, os delatores Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-diretor de infraestrutura da empreiteira, e Valter Luis Arruda Lana, ex-diretor da empresa no Sul, afirmaram que Padilha se envolveu na cobrança de vantagens indevidas na execução de um contrato para a construção de uma linha de trem entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. O contrato valia R$ 323.977.829,28. Segundo a investigação, Padilha pediu o pagamento de 1% do valor para interferir na licitação. Isso ocorreu entre o fim de 2008 e o início de 2009. O pagamento foi realizado, segundo o Ministério Público, por meio do Setor de operações Estruturadas da Odebrecht. Ministro da Secretaria Geral da Presidência teria agido ao lado de ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Assessoria diz que ele não irá comentar o caso.
Por G1
O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ) teria solicitado propina para ajudar a financiar campanhas eleitorais de 2014, em nome de seu partido e de Michel Temer, segundo depoimentos citados em inquérito autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
A assessoria do ministro Moreira Franco informa que ele não vai comentar o assunto.
O nome dele aparece ao lado do de Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, nos depoimentos de José de Carvalho Filho, Cláudio Melo Filho, Marcelo Bahia Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho e Paulo Henyan Yue Cesena. Fachin autorizou as investigações a partir do pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A PGR fez o pedido com base nas delações dos ex-executivos da Odebrecht. De acordo com o inquérito, o Ministério Público afirma que “há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistentes na solicitação de recursos ilícitos em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro e de Michel Temer, a pretexto de campanhas eleitorais”. Citando especificamente Moreira Franco em seu depoimento, Paulo Cesena diz que o então ministro da Aviação Civil participou de uma reunião com a Odebrecht na qual foi discutida a manutenção de cláusulas que aumentariam a chance de a empresa vencer uma segunda rodada de concessões aeroportuárias. Além disso, Benedicto Barbosa da Silva relata um repasse de R$ 4 milhões, solicitado por Franco ao grupo empresarial, e pago a Eliseu Padilha, a pretexto da campanha eleitoral de 2014. Documentos apresentados pelos colaboradores apontam pagamento a uma pessoa com apelido “Primo”, em localidades que correspondem ao escritório de Eliseu Padilha, de acordo com o inquérito. Michel Temer (PMDB) é citado em pedidos de abertura de 2 inquéritos, mas tem 'imunidade temporária'11/4/2017 Procuradoria não pediu investigação sobre o presidente, porque ele não pode responder por crimes anteriores ao mandato.
Por G1
O presidente Michel Temer foi citado nos pedidos de abertura de dois inquéritos relacionados às delações da Odebrecht, mas, em razão da "imunidade temporária" que ele possui, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não o incluiu na "lista do Janot". O presidente não pode ser investigado por crimes que não aconteceram no exercício do mandato.
O primeiro inquérito investiga dois ministros do atual governo por suspeita de pedir propina para a campanha eleitoral de 2014: Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa, e Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, ambos do PMDB. Segundo o Ministério Público, "há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistente na solicitação por Eliseu Padilha e Moreira Franco de recursos ilícitos em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e de Michel Temer, a pretexto de campanhas eleitorais".
O segundo investiga o senador Humberto Costa (PT-PE) por suspeita de recebimento de propina. Segundo documento assinado pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), há "menção à possível participação do atual presidente da República, Michel Temer, em virtude de suposta reunião da qual teriam participado Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, ocorrida em 15 de julho de 2010 em São Paulo". No mês passado, Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, confirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que se reuniu com Temer para discutir doações para a campanha eleitoral de 2014. O ex-diretor de relações institucionais do Grupo Odebrecht, Claudio Melo Filho, já havia afirmado em delação premiada que foi acertada uma contribuição de R$ 10 milhões ao PMDB. Na época em que a informação veio à tona, o Palácio do Planalto informou que o presidente repudiava "com veemência" o conteúdo da delação de Melo Filho. Na tarde desta terça-feira (12), o jornal "O Estado de S. Paulo" informou que Edson Fachin autorizou a abertura de 76 inquéritos, que envolvem 8 ministros, 24 senadores, 39 deputados e 3 governadores, além de 1 ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e outras 23 pessoas, como base na delação da Odebrecht. Os oito ministros do governo Temer que estão entre os alvos de investigações são: Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), Blairo Maggi (Agricultura), Bruno Araújo (Cidades), Marcos Antônio Pereira (Comércio Exterior) e Helder Barbalho (Integração Nacional). Segundo informou o Jornal Nacional, Michel Temer deixou claro que vai seguir a linha estabelecida antes: aberturas de inquérito não provocam mudanças no governo. Se houver pedido de denúncia e ela for aceita, então o ministro será afastado. Se virar réu, o ministro será demitido. O governo teme agora o efeito da lista de Fachin na aprovação de reformas no Congresso, como a previdenciária e a trabalhista. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi chamado nesta noite para ir ao Palácio do Planalto. A reunião não estava na agenda do presidente. Dilma Rousseff recebeu o Valor em seu apartamento
Por Maria Cristina Fernandes | Valor
São Paulo - Guilherme Covolo arrasta uma cadeira na direção da varanda do apartamento da avó na tentativa de alcançar o beiral. Aos 13 meses, ele fala "papai", "mamãe", "Ga" (para se referir ao irmão, Gabriel) e "vovó". É a ela que se dirige, já subindo na cadeira: "Qué pulá".
Na ausência da filha e do genro, a ex-presidente Dilma Rousseff passou o Carnaval em casa cuidando dos dois netos. Com Gabriel, de seis anos, ainda pode recorrer aos livros. O menino folheia e recria diálogos, não sem antes assegurar que esteja sozinho: "Vovó, você pode sair daqui?". O caçula ordena sem rodeios. À noite, ambos desfazem a cama da avó várias vezes antes de a empurrarem até que só lhe reste a beirada do colchão para dormir.
Guilherme nasceu na primeira semana do ano em que a avó foi deposta. Gabriel tinha quatro anos, mas não se apercebeu do ocorrido. No limite, pergunta por que ela não faz, em Porto Alegre, um palácio igual àquele de Brasília. "Eu não sou princesa, pô", lhe responde a ex-presidente. Dilma Rousseff recebeu o Valor em seu apartamento. Da sala de baixo, que se atravessa em três passos, parte uma escada caracol em madeira ao lado de um quadro de Siron Franco, presente do artista. O andar de cima se resume a escritório e terraço. Atrás de um biombo fica o espaldar em que faz alongamento e musculação. No lado oposto às estantes está o tear de madeira e um cesto de linhas. Aprendeu a usá-lo na cadeia a partir de um modelo feito de caixa de maçã e pregos. Nele, as detentas da torre das donzelas, no presídio Tiradentes, faziam peças para vender. Aquele que tem em casa ainda não foi reativado. Um tapetinho amarelo sob o notebook, tecido antes da temporada brasiliense, é a prova de que um dia foi usado. "À Mesa com o Valor" seria movida a brownies sem glúten, sem lactose e sem soja e chá de limão com framboesa, mas os regalos ficam esquecidos numa mesinha ao lado da poltrona da presidente. Depois de arriscada escalada pela escada estreita, Cleo, uma das assessoras a que tem direito na cota de ex-presidente, coloca a bandeja à sua frente. Lá estão a garrafa térmica, xicrinhas floridas, jarra com água e copos. Há quase um ano fora da Presidência, Dilma manteve o peso e o gênio. Mal Silvia Zamboni começa a clicá-la, avisa: "Não vou fazer fotos durante a entrevista. Até estou muito meiga. Não sou tão meiga assim. Depois vamos parar, né, querida?". Custa a depor as armas, mas a conversa continua, bem como as fotos. Quando está em Porto Alegre, a rotina se inicia com uma pedalada de 50 minutos. É o único exercício aeróbico que consegue fazer. Caminhar a entedia e o joelho, 69 anos depois, já não dá conta de corridas. Atribui aos exercícios o bom momento da saúde. "Sempre tive atividade física, então retomar não foi tão difícil. Dizem que o corpo tem memória." Referências aos presídios de sua vida, ao longo da conversa, atestam que o dela nunca a perdeu. Não parece contaminada pela tristeza que dá nome ao bairro, na zona sul de Porto Alegre, em que mora para estar mais perto da filha: "Meu outro apartamento é maior, mas fica num lugar mais coxístico". A prefeitura da capital e o governo do Estado são ocupadas por dois entusiastas do impeachment (o tucano Nelson Marchezan Jr. e o pemedebista José Ivo Sartori), mas a ex-presidente diz não enfrentar hostilidades na rua. As pessoas a abordam no supermercado e alguns pedem para tirar foto. "Só não paro quando estou de bicicleta. Digo 'Se querem tirar foto, a gente engrena junto'." Ciclistas do "pedal das gurias", quando a acompanham até o fim do percurso, arrancam uma foto sem selim. Engata um tema noutro com uma fluidez que lhe faltou nas falas presidenciais. A fluência é gaúcha. Passou a omitir, com frequência e ênfase, o "s" no plural. Relata boa acolhida em voos. "Vem todo mundo pra tirar foto. Os comissário, as comissária, até o piloto. Só pergunto para ele: 'E quem ficou lá dentro?'." Está de calça azul-marinho, blusa e brincos vermelhos e escarpin baixo. Usa uma corrente de ouro fina e conserva o olho grego, símbolo de proteção, numa pulseira do braço esquerdo. Mantém o cabelo curto com reflexos e a testa menos franzida. Sente falta do poder? "Posso até sentir, mas não agora. Sempre fui uma pessoa que se acostuma com a vida. Tinha uma vida lá, com um ritmo e uma função. Era obviamente interessante, sempre vai ser. Instigante, importante, né? Aqui tenho outra vida. Gosto muito de ler, de ver filme. Escuto ópera." A lista de leituras é imensa. A primeira vem para rebater a provocação de que seu governo geriu o maior esquema de corrupção do mundo: "Makers and Takers" (Penguin, 2016, ainda sem tradução no Brasil), de Rana Foroohar, jornalista de origem turca de 47 anos, colunista do "Financial Times" e ex-editora na revista "Time". "As pessoas esquecem que na origem da crise de 2008 está a corrupção de um setor desregulado que atingiu o mundo inteiro." Na resenha de Dilma, o livro mostra como o setor financeiro, a partir do primado do acionista, deixou de assegurar a expansão da indústria, do serviço e da agricultura, para se transformar em um fim em si mesmo. Toma o exemplo da Apple, que, a despeito de ter quase US$ 250 bilhões em caixa, tomava empréstimos para fazer compras e recompras de ações. Dessa forma, as valorizava e, com o lucro da transação, pagava dividendos e remunerava a participação acionária dos dirigentes. Naquela quinta-feira pós-Carnaval, a ex-presidente estava nas últimas páginas de "Makers and Takers", mas se sentia à vontade para exibir sua identidade com a autora, na constatação de que a financeirização, ao maximizar o lucro, reduz o investimento em tecnologia e induz desigualdade: "Então uma empresa não tem por objetivo fornecer bens e serviços, mas sim dar lucro para o acionista, e vamos deixar de conversa fiada". Dilma ainda se vale do escudo de Rana Foroohar para sair em defesa da política de redução de juros de seu governo. Parece convicta das razões pelas quais as empresas não fizeram o mesmo: "Todas as empresas são um pouco bancos. Se não tiverem, nas suas tesourarias, esse aspecto de banco, não conseguem uma valorização suficiente". Dilma está aclimatada à cidade em que passou a maior parte de sua vida. Faz 42°C naquela tarde de quinta-feira em Porto Alegre. O calor pouco arrefece com o anoitecer. O ar-condicionado do escritório assegura a sobrevivência, mas a água termina antes do café. Começa a se sentir à vontade para teorizar sobre os motivos de sua deposição. Desde 2015, o Brasil enfrenta uma recessão sem precedentes, mas o impeachment é, na visão de sua principal vítima, uma decorrência de placas tectônicas em desarranjo global. Recorre a outro livro, este já concluído, "A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo de Desastre" (Nova Fronteira, 2008), da jornalista canadense Naomi Klein, de 46 anos, para explicar a tríade que está em curso e teria catapultado seu governo: financeirização, aumento da desigualdade e Estado de exceção. Na descrição da leitora, Naomi mostra como se constroem processos pelos quais aquilo que parecia politicamente impossível acaba por se tornar inevitável. A crise instalada no seu governo abrira oportunidade para reversão de modelo. O impeachment teria sido o choque necessário para que a liberalização econômica (fim da política de conteúdo nacional) e a reversão de políticas sociais (reformas trabalhista e previdenciária) pudessem vir a ser adotadas rapidamente. A ex-presidente está em pé. Serve-se de mais uma xícara de café e anda pelo escritório sem parar de lançar teorias sobre sua queda. É lembrada de que, em seu discurso de despedida, disse ter cometido erros, não crimes. A curva da história talvez pudesse ter sido outra sem esses erros. Quais foram? Não baixa a guarda sobre o partido, mas dá solenidade à revelação à qual voltaria dias depois em Genebra: "Vou te falar, acho que cometi um erro importante, o nível de desoneração de tributos das empresas brasileiras. Reduzimos a contribuição previdenciária, o IPI, além de uma quantidade significativa de impostos. Com isso, tivemos uma perda fiscal muito grande. Nossa expectativa era evitar que a crise nos atingisse de forma pronunciada. Por isso, aumentamos também o crédito, mas acho que aí não erramos. Erro foi a desoneração porque, ao invés de investir, eles aumentaram a margem de lucro às custas de mais fragilidade nas contas públicas. Se for olhar o nível de despesas de pessoal no meu governo, é menor do que nos anteriores. A crise fiscal não derivou de excesso de gastos, mas essa renúncia tinha a intenção de beneficiar o conjunto da economia, o que não ocorreu". Só estendeu uma das mãos à palmatória, mas, dado o vigor com o qual defendeu a política de desonerações ao longo de seu governo e até agora, não parece pouco. Naquele momento, ainda resiste a espalmar a outra mão à palmatória da Lava-Jato: "Agora, o que eu tenho certeza que o meu governo jamais fez foi compactuar com a corrupção. Entro num tema que acho sério, que é o sincericídio do ministro por um mês, do Planejamento, o senador [Romero] Jucá, quando disse que tinha que estancar a sangria e usou palavras, assim, pornográficas para descrever as relações políticas no Brasil". Foi na sua gestão como presidente do conselho de administração que a Petrobras aprovou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, símbolo do buraco sem fundo em que se transformou a estatal. Dilma nunca arredou pé de seu voto. A compra foi aprovada por unanimidade por um conselho formado, entre outros, pelos empresários Jorge Gerdau Johanpeter, Fabio Barbosa e Claudio Haddad, sob a justificativa de que havia relatórios técnicos em profusão que a recomendavam. A ênfase em "meu governo" não parece solta na frase. Foi na gestão Dilma que Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, afastou os diretores suspeitos e cerceou os contratos por eles geridos, decisão que começou a corroer a base de apoio ao governo no Congresso montada pelo antecessor: "Se não achasse importante o combate à corrupção, não teria sancionado a lei da delação premiada, não teria respeitado a Polícia Federal, não teria respeitado o Ministério Público, nem nomeado ministros [do Supremo Tribunal Federal] que tivessem uma inequívoca biografia". Deixou um fio solto ao não se comprometer com o que o partido fez antes de sua posse, inclusive para elegê-la, mas corre para amarrá-lo: "O combate à corrupção no Brasil mais uma vez virou uma arma ideológica. Enquanto as investigações estavam sobre o PT, ou alguém do PT, não havia problema em vazamento, não havia problema em 500 mil pesos e mil medidas. Agora tem. Uma coisa que, visivelmente, em qualquer país do mundo, seria caso de quebra da segurança nacional, que é gravar o presidente sem autorização do Supremo, tudo isso foi permitido. Agora, quando chega ao PMDB ou PSDB, é criminalização da política". Dilma ganhou apertado em 2014. Começou a cair quando custou a transformar a estreita vitória eleitoral em hegemonia política. O desafio lhe fora lançado por aquele que viria a ser seu maior algoz, o então deputado pemedebista Eduardo Cunha, em discurso de posse na presidência da Câmara dos Deputados, quando, assessorado por um amigo, revelou inesperada cultura gramsciana ("Sabemos que a eleição, muito diferentemente das três últimas eleições, não teve uma hegemonia eleitoral. Ela teve uma vitória eleitoral que não dá condição para hegemonia política. Só a hegemonia eleitoral tem como consequência a hegemonia política."). Estava aberta a avenida para a ex-presidente falar dos entraves políticos que encontrou em seu partido e fora dele para a construção desta hegemonia, mas Dilma opta por sua zona de conforto, a economia: "No início do meu governo, em 2011, fizemos um ajuste e, até 2014, resistimos à crise. A guerra cambial com os Estados Unidos valorizou nossa moeda de uma maneira muito perigosa para a indústria. Reduzimos a taxa de juros, pra segurar a economia. Foi aí que veio 2013". A ex-presidente até hoje ainda não se sente capaz de dar uma explicação cabal para aquelas manifestações. Muito menos por que fizeram bis no seu impeachment e não mais voltaram a se repetir quando se mostrou que o grupo empossado, além de promover a lambança, havia assumido para podar direitos trabalhistas e previdenciários: "Ainda vamos precisar de uma distância histórica para entender. Tem uma parte simples, mas não responde tudo. É mais fácil distribuir renda do que ampliar serviços. A renda tem um tempo político mais rápido que o acesso a serviços. E como, de fato, o fim da miséria é só o começo, as pessoas sempre querem mais". Quando começa a perder o chão, Dilma volta à narrativa em que navega sem instrumentos: "Entramos na maior seca do Brasil dos últimos 80 anos, aquela da Cantareira vazia. O preço de não ter apagão no Brasil sempre será caro porque você para de usar água, que é gratuita, e passa a pagar por um combustível. Seguramos essa pressão de custo até as eleições. Acaba o processo eleitoral e constato que o centro não quer colaborar, começa a jogar no quanto pior, melhor. 'É a quarta eleição que eles ganham.' Aí dão início ao processo de desconstrução da vitória, que começa com o pedido de recontagem de votos e só vai terminar no impeachment". Entre sua vitória e a posse o PT começa a namorar com o perigo ao lançar Arlindo Chinaglia para derrotar Eduardo Cunha. Paralelamente, o Palácio do Planalto tenta montar uma nova base de apoio, liderada pelo PSD de Gilberto Kassab e pelo PP de Ciro Nogueira, para reduzir a dependência do PMDB. As duas cartadas fracassam e o governo já se inicia derrotado. Os parlamentares não batiam mais às portas do Palácio para pedir cargos. Iam diretamente ao gabinete de Cunha. O deputado, numa demonstração de que os magos da política também erram, cumpriu a vendeta de ir à CPI. Foi a versão exposta naquela comissão para os recursos mantidos no exterior que comprometeu seu mandato e a liberdade. Naquele momento, no entanto, havia uma forte pressão por um acordo, vinda, principalmente, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do então ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, para dar, ao deputado, os três votos do PT no Conselho de Ética. Dilma não fulaniza: "Tinha gente que dizia pra mim: 'Tem que fazer aliança com Eduardo Cunha', mas o rompimento, olhando de hoje, era inexorável. Não existe acordo com Eduardo Cunha. Existe submissão. As 19, ou 15 ou 38 perguntas ao Temer, o pacote de [José] Yunes, o que você acha que é, querida? Você está falando de um gângster inteligente. Devia ajoelhar e aceitar as condições?". A recusa a um acordo não lhe custou o mandato? "Custaria mais para o país. Muito mais". Não está custando agora, pelo conjunto da obra do governo Michel Temer? "Acontece o seguinte, minha querida, custaria eu fazer, né? Você vai me desculpar mas eu não vou assaltar o país. Eduardo Cunha e eles assaltam o país. Assaltam. Do verbo assaltar. Além de outras coisas, né? Ele tem uma postura, em relação a direitos, coletivos e individuais, extremamente sectária." Dilma está novamente em pé. Anda, fala, e apoia as mãos no espaldar da poltrona para ser mais enfática. Ao contrário dos seus críticos, alguns dos quais de seu círculo mais próximo, a presidente custa a aceitar que a crise que lhe custou o mandato poderia ter sido evitada se fosse menos mercurial e cultivasse mais as relações interpessoais. "Este não é um movimento que dependa da vontade pessoal. Também não gosto de fazer análises pura e simplesmente moralistas das pessoas. É mais interessante pensar a função delas. O Senado resguarda mais esse centrão democrático, construído pós-Constituinte de 1988. Mas na Câmara este centro foi engolido pela direita conservadora. O centro democrático explodiu. É muito grave. E isso começou no meu impeachment, quando o centro passou a ser liderado por uma figura como Eduardo Cunha." A ex-presidente lista as reformas previdenciária e trabalhista ("tem que fazer, mas não é desse jeito. Não é com 49 anos de exigência"), o teto de gastos ("vai pinochetizar o Brasil"), a venda de partes da Petrobras e a desconstrução de bancos públicos como consequências da captura do centro pela direita. Foi na tessitura das relações com as quais tentou permanecer no poder que a presidente reconhece seu segundo erro: levar Michel Temer para o coração da articulação política. O então vice-presidente percebeu a fragilidade do governo junto a uma base que não parava de se queixar. Ao lado de Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil, à época na Aviação Civil, mapeou o cerco. Arrepende-se de tê-lo colocado dentro do governo? "Olha, minha filha, não sabíamos que o nível de cumplicidade dele com o Eduardo Cunha era tão grande. Nenhum de nós sabia, nem o Lula. Depois é que descobrimos. Ele sempre negou essa cumplicidade que agora todo mundo já sabe." Quando começa a falar de Temer, Dilma, pela primeira vez ao longo de quase quatro horas de conversa, franze o cenho, encrespa a fisionomia e libera o calão. "Saber quem eles são, nós sabemos. Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]. Convivi sabendo quem eram. Não tenho esse 'caiadismo' [de Ronaldo Caiado] de falar que eu não sabia quem eram. Sabia direitinho. Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância é porque eu sabia demais quem eles eram." Nesse momento, Dilma relativiza a frase categórica sobre a extensão da faxina de seu governo: "Saber demais não significa que você é capaz de impedir algumas coisas. Por exemplo, o gato angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: 'Ele não fica. Não fica!'. Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir. Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não tinha certeza, entendeu? Não acho que é relevante fazer fofoca, conversinha. Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então? Porque o Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso. Padilha não é. A hora em que ele [Temer] começa assim [em pé, mostra as mãos em sentido contrário, com os dedos apertados em forma de gancho]. É um cara que não enfrenta nada!". Os brownies intactos na mesinha ao lado são indício de que a ex-presidente gerencia bem as ansiedades da memória. Na novela da Lava-Jato, o capítulo preferido é o das perguntas de Eduardo Cunha a Temer, parte das quais foram vetadas pelo juiz Sergio Moro. "Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes [ex-assessor da Presidência]? Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha. Explícito. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer?" A leitura dos jornais ao longo dos últimos meses lhe deu a certeza de que ainda está cedo para escrever sobre a derrocada. "Deixa passar mais tempo. Vai ficar muito mais claro esse troço." Os dois primeiros volumes dos diários de Fernando Henrique Cardoso, presenteados por duas jornalistas, estão à vista na estante, mas a ex-presidente diz que não os leu. Resiste ao formato de diário. "Jamais faria desse jeito. Não tem início, nem meio, nem fim, pô. É um troço desalinhavado do cão. Tem que escrever pra contar o mais próximo possível o que aconteceu. Pra entender, não para se defender, dentro daquele princípio: pra mudar, é preciso saber. Você tem que saber o que aconteceu." Já foi procurada por editoras, das quais declina o nome, mas nem a promessa de adiantamento a atrai. É lembrada de que o mercado está inflacionado pelas memórias de Barack e Michelle Obama, pelas quais os lances já chegaram a US$ 60 milhões. "Obama é Obama, US$ 60 milhões é para nunca mais pensar em dinheiro nesta e na outra existência." Dilma vive com a aposentadoria do INSS de R$ 5.578,00 e a renda de aluguéis de imóveis deixados pelo pai, que ainda custeiam o sustento da mãe, Dona Dilma, e do irmão, Igor. Não revela a renda mensal, mas é dela que tira ainda o aluguel de um depósito onde guarda os objetos ganhos durante a Presidência, e a viagem mensal que faz a Belo Horizonte para visitar a mãe de 94 anos. Frequentemente a encontra de mãos dadas com a irmã, Arilda, que lhe fazia companhia no Alvorada, e com quem hoje divide um apartamento próximo a um sobrinho médico, que as acompanha de perto. Sobrevivente de sucessivos acidentes vasculares cerebrais, a mãe não se deu conta do turbilhão do impeachment. Instalada na capital mineira, com demência senil, limitou-se a dizer que estava satisfeita em voltar para casa. Dilma contesta a informação, de fonte primária, de que o ex-marido, Carlos Araújo, e a filha Paula ajudam na manutenção da família --"Vivo modestamente, querida", diz, declinando de informar quanto lhe rendem os aluguéis dos dois apartamentos, no Rio e em Porto Alegre, e de uma casa na capital gaúcha. Passou a receber a aposentadoria assim que deixou a Presidência, aos 68 anos, mas enfrenta batalha jurídica com o governo para que, além da idade e dos anos trabalhados, se leve em consideração também o período da clandestinidade pelo qual foi anistiada. Atribui a pendenga a perseguição e diz que a única reparação que pretende é a do reconhecimento formal, no documento previdenciário, da anistia. Não espera rendimentos da agenda intensa de palestras - "Não gosto de cobrar". Na semana passada, esteve em Genebra. Em abril vai ficar dez dias nos Estados Unidos, período durante o qual vai falar em Harvard, Columbia, Princeton e Brown. Recebe passagem e hospedagem, mas recusa ajuda de custo. "Esse tipo de coisa limita muito", diz, sem se alongar sobre as acusações da Lava-Jato contra as palestras de seu antecessor. Foi sondada por universidades estrangeiras para fazer pós-doutorado. Também não descarta dar cursos avulsos na Fundação Perseu Abramo pelos quais possa vir a ser remunerada. A bibliografia seria encabeçada pelos escritos do filósofo italiano Giorgio Agamben sobre o Estado de exceção, da República de Weimar a Guantánamo. Diz que a volta para a política não está nos seus planos, a despeito de já ter declarado que não a descarta - "Falei aquilo para depois, se mudar de ideia, não ser cobrada". Depois de arregimentados os ministro Ricardo Lewandowski e o então presidente do Senado, Renan Calheiros, para manter seus direitos políticos no julgamento do impeachment, a ex-presidente, incluída na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enfrentará ainda o julgamento de suas contas eleitorais que pode colocar em risco um eventual retorno às urnas. Os flagrantes do discurso de candidata são frequentes ("É impossível, num país como o nosso, eles quererem reverter tudo como estão fazendo. É gravíssimo. Ninguém perde tantos direitos assim"), bem como o gosto adquirido pelo processo eleitoral: "Temos um encontro marcado com a democracia. Não importa que ganhe seu opositor. Você vai ter que respeitar; 2018 vai ser um banho com sabão e água sanitária em todo esse processo". A ex-presidente, no entanto, não dá de barato que o sistema político se manterá intacto até as eleições, quando acredita que uma candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência seria imbatível. Dá asas a elocubrações como a de que, para evitar a eleição de um candidato que retruque o arrocho, o Congresso pode vir a aprovar o parlamentarismo. A resistência da ex-presidente em se prolongar nos erros do seu governo e, principalmente, do seu partido e de sua principal liderança é inversamente proporcional à crença de que sua derrubada teve pinceladas conspiratórias, inclusive de interesses geopolíticos contrariados por uma política externa que pôs em pé os BRICs e enfrentou a rede de espionagem americana. Do que mais lamenta? Petrobras e indústria naval. Três tesoureiros do PT foram para a cadeia, mas, na escala de lamentações da ex-presidente, inadmissível é o uso da corrupção como "instrumento de combate político e ideológico". "Nenhuma empresa de engenharia é angelical, as nossas não são, mas as dos outros países também não são. Outro dia estava vendo como é que ficou uma licitação de infraestrutura de gás na Petrobras. Quando você busca o nome das empresas internacionais que se qualificaram e coloca a palavra 'corrupção', todas já enfrentaram processos. E nenhuma delas foi destruída." Dilma não contabiliza a pressão emocional no passivo do impeachment. Passados 11 meses, a patrulha não sossegou. No Dia Internacional da Mulher, redes de WhatsApp fizeram circular a foto de uma traseira de caminhão onde se lia: "Parabéns a todas as mulheres, menos a Dilma". "Sou contra a visão policialesca do escracho. Sempre foi uma arma da tortura, arma dos bandidos. Não me feriu porque sabia de quem vinha. Mesmo quando são pessoas comuns que fazem, não são intrinsicamente bandidas, mas estão sendo usadas. Então não dá para se deixar abalar." A ex-presidente contesta a voz corrente de que as crises se agravaram no seu governo porque sua sobrevivência à tortura fazia com que os problemas fossem levados ao limite, sua zona de conforto. "Não me acostumei com a crise. Ninguém se acostuma. A única coisa que você sabe é que tem que resistir. Qualquer pessoa pode ser forte. Eu sou 'dura'. Me cobraram de eu ter ido ao Senado, se o processo era viciado. Fui porque achei que seria importante para o país. É grave porque se uma presidente perde direitos, o que podem fazer com o cidadão comum? Mas, de qualquer jeito, mantinha-se a institucionalidade. Não estamos numa ditadura em que toda a sociedade perde direitos." Lembra da folclórica sessão de 17 de abril na Câmara dos Deputados como um presente que lhe foi ofertado. Acredita que, naquele dia, caiu a ficha da imprensa internacional sobre o que ocorrera no Brasil. Guarda, com nostalgia, a lembrança da solidariedade recebida por chefes de Estado e, principalmente, da premier alemã, Angela Merkel. No rol de leituras que acumula desde que foi deposta, a ex-presidente ainda não revisitou as tragédias gregas, nem mesmo seu ex-professor que ainda vive em Porto Alegre e conserva lembranças da aluna espalhadas em seu apartamento. Ainda mantém a versão em apostila de Filoctetes, o herói grego mandado para uma ilha deserta onde ninguém pudesse sentir o odor de suas feridas. "É um barato aquilo. É sem perdão, entendeu? Não tem meia boca. Não tem culpa judaico-cristã. Deixa na ilha e pronto." Nunca se sentiu feita de Filoctetes? "Não, nós mulheres temos mais de Antígona." Dilma passa a discorrer sobre a filha de Édipo que lava e enterra o irmão, a despeito da proibição de que se mexesse no corpo do guerreiro que atacara Tebas. "Tem uma fala genial em que ela diz que a razão natural de enterrar o irmão era mais forte que a razão de Estado". Na narrativa de Dilma, como se sabe, o papel de Creonte, o poderoso de Tebas, permanece vago. Moreira Franco é um dos principais auxiliares do presidente Michel Temer e ex-integrante do governo Dilma Rousseff.
Por Bruno Peres | Valor
BRASÍLIA - O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Moreira Franco, classificou como “acusações infundadas” as declarações dadas pela ex-presidente Dilma Rousseff em entrevista publicada pelo Valor nesta sexta-feira. Em manifestação pública, ele atacou a gestão da ex-presidente e defendeu o governo atual.
Moreira Franco é um dos principais auxiliares do presidente Michel Temer e ex-integrante do governo Dilma Rousseff. Na entrevista ao Valor, Dilma se refere a Moreira Franco como “gato angorá” - apelido dado por Leonel Brizola e que é relacionado ao ministro nas planilhas de propina da Odebrecht, investigada pela Operação Lava-Jato - e afirma que o impediu de roubar recursos públicos durante seu governo.
Dilma relata ter avisado ao então vice-presidente Michel Temer que o correligionário não permaneceria no governo. Moreira Franco também está entre os ministros que aparecem na chamada 'lista de Janot', que reúne os pedidos de abertura de inquérito encaminhados pelo procurador-geral Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro também se envolveu recentemente na polêmica de ter sido nomeado por Temer em um ministério recém-criado, o que gerou suspeitas de que o pemedebista só queria dar foro privilegiado ao amigo. Veja a íntegra da manifestação de Moreira Franco. "Às acusações infundadas da ex-presidente, respondo com poucas palavras e resultados: seu governo legou 12 milhões de desempregados. O nosso abre vagas com carteira assinada, depois de 22 meses em queda. O governo Dilma atraía empresas 'amigas' e afastava investidores. O nosso atraiu os maiores operadores estrangeiros de aeroportos, só ontem arrecadamos mais de R$ 3 bilhões. Em 6 anos, Dilma não conseguiu entregar as obras de transposição do rio São Francisco. Nós entregamos em seis meses. Mas, foi como presidente do conselho de administração da Petrobras e da República que ela se superou, dizendo não conhecer o saque feito à empresa. Isso diferencia corrupção, de trabalho e competência. Certamente por isso eu não tenha ficado em seu governo. Moreira Franco" Sem foro privilegiado, os dois serão julgados em 1ª instância
Diário do Poder
A lista entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), traz pedidos de abertura de inquérito para investigar a atuação dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, segundo reportagem do O Globo. Por não terem foro privilegiado, ambos serão investigados por juízos de 1ª instância como outros 211 casos na lista. A decisão de enviar os processos será do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF.
Além dos ex-presidente, a reportagem afirma que os nomes dos presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também estão na lista, além dos senadores tucanos Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e Aloysio Nunes (SP), que se licenciou para assumir o Ministério das Relações Exteriores. Caso sejam aceitos os pedidos, os processos envolvendo esses políticos serão analisados pelo STF.
Janot também pediu autorização ao STF para investigar outros políticos como Romero Jucá, líder do governo no Senado, Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado, e Edison Lobão (PMDB-MA), além dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria Geral), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Bruno Araújo (Cidades) |
AutorLuiz Maia Histórico
Julho 2017
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