O empresário, que prestou depoimento à PF negou operar para políticos e partidos, mas admitiu já ter feito doação de R$ 100 mil à campanha de Loures
Luiz Vassallo, Fábio Serapião, Breno Pires, Isadora Peron e Rafael Moraes Moura | O Estado de S.Paulo
O relatório de investigação da Polícia Federal sobre o presidente Michel Temer revela que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) mantinha contato frequente com o empresário Edgar Rafael Safdié. O peemedebista é acusado de receber propinas de R$ 500 mil, supostamente em benefício de Michel Temer, em troca de uma intervenção junto ao CADE, que beneficiaria a JBS. Em tratativas para viabilizar os repasses, Loures chegou a indicar um ‘Edgar’ para ser o encarregado de pegar os valores em dinheiro vivo. O empresário, que prestou depoimento à PF negou operar para políticos e partidos, mas admitiu já ter feito doação de R$ 100 mil à campanha de Loures.
“Observa-se um total de 33 registros predominantemente no ano de 2013, período que, conforme apresentado, RODRIGO ROCHA LOURES atua na Vice-Presidência da Republica. Observa-se também que, segundo informações extraídas pela ferramenta pericial, a maioria dos registros foi recuperada, pois haviam si do deletados no aparelho”, afirma a PF, em relatório.
No âmbito das investigações, Edgar Safdié prestou depoimento à Polícia Federal e afirmou não ter feito operações financeiras para Rodrigo Rocha Loures. O empresário alegou ainda que o Edgar sugerido pelo peemedebista para pegar a mala dos R$ 500 mildeve ser ‘algum homônimo’ e se disse ‘surpreso’ com o fato de ter sido intimado para prestar esclarecimentos. Ele ainda afirmou à PF que ‘nunca manteve contato com políticos’, mas admitiu ter doado R$ 100 mil para a campanha de Loures em 2006, à Câmara dos Deputados. A Polícia Federal revela que o empresário se situa em São Paulo, assim como disse Loures ao diretor de Relações Institucionais do Grupo J&F, Ricardo Saud, em encontro no qual o peemedebista tentou indicar ‘o Edgar que fica em São Paulo’, e que ‘faz a gerência das contas’. Naquela ocasião, o delator da JBS gravou imagens e áudios da conversa que teve com Loures. A menção a Edgar se deu em um shopping em São Paulo, pouco antes de o ex-deputado resolver pegar a mala com R$ 500 mil da JBS em uma pizzaria, na capital paulista. O relatório dá conta ainda de que 17 empresas estão em nome de Edgar Safdie. O detalhe é que as mensagens entre o empresário e Loures tiveram de ser recuperadas pela Polícia Federal, já que o homem da mala deletou as conversas de seu celular. “Verificou-se que EDGAR SAFDIE é pessoa próxima a RODRIGO ROCHA LOURES, tendo sido identificado uma conversa SMS que relata uma viagem em conjunto, inclusive com familiares, em fevereiro de 2013”, relata a PF.
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Nos dois processos por danos morais, difamação, calúnia e injúria contra empresário, peemedebista cita momento em que impediu a transferência de domicílio fiscal do Grupo J&F
Isadora Peron e Breno Pires | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer entrou com dois processos na Justiça contra o empresário Joesley Batista, um por danos morais e outro por difamação, calúnia e injúria. Para a defesa do peemedebista, o executivo agiu por “ódio” para prejudicar Temer e “se salvar dos seus crimes”.
Temer decidiu processar Joesley após ele dizer, em entrevista à revista Época, que o presidente liderava a "maior organização criminosa do país".
Nos processos, que são praticamente idênticos, a defesa do peemedebista afirma que Joesley “passou a mentir escancaradamente e a acusar outras pessoas para se salvar dos seus crimes” e acusa o empresário de ser "o criminoso notório de maior sucesso na história brasileira", já que conseguiu um acordo de delação premiada que o permite ficar em liberdade e morar no exterior. Sem citar os governos do PT, o documento afirma que é preciso “rememorar os fatos” de que o Grupo J&F, da qual Joesley é acionista, recebeu o primeiro financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2005, “muito antes” de Temer chegar ao Palácio do Planalto. Para eles, “os reais parceiros de sua (Joesley) trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo, as conversas realmente comprometedoras com os sicários que o acompanhavam, os grandes tentáculos da organização criminosa que ele ajudou a forjar ficam em segundo plano, estrategicamente protegidos”, dizem os processos. A defesa também diz ser “esdrúxulo” o fato de Joesley, “de uma hora para outra”, passar a incorporar o papel de um empresário “sério e indignado com a corrupção” e esquecer que foi “a corrupção que o tornou um grande empresário”. O advogado de Temer também afirma que os empresários ligados à JBS tinham “milhões de razões para terem ódio” de Temer, porque o governo, por meio do BNDES, impediu a transferência de domicílio fiscal do grupo J&F para a Irlanda, em outubro de 2016. “(Isso seria) um excelente negócio para ele, mas péssimo para o contribuinte brasileiro. Por causa dessa decisão, a família Batista teve substanciais perdas acionárias na Bolsa de Valores e continuava ao alcance das autoridades brasileiras.” No processo, a defesa argumenta ainda que “a malsinada entrevista tem uma carga excessivamente política”, pois coincide com o julgamento que ocorrerá esta semana no Supremo Tribunal Federal que pode, ao menos em tese, comprometer a validade da homologação da delação dos empresários do grupo. Por fim, o advogado sustenta ainda que Temer “é homem honrado, com vida pública irretocável, respeitado no meio político” e que, “durante toda a vida pública, nunca, jamais, sofreu qualquer condenação judicial, ou mesmo foi acusado formalmente de ter obtido qualquer vantagem indevida”. As duas ações são assinadas pelo advogado do PMDB, Renato Oliveira Ramos. Temer se reuniu com ele na manhã desta segunda-feira, 19, antes de embarcar para viagem de cinco dias para a Rússia e Noruega, para fechar os últimos detalhes. Os processos não estabelecem um valor de indenização. A ideia do presidente, caso consiga ganhar as ações na Justiça, é doar os valores referentes a elas a uma instituição da caridade. PF encaminha ao Supremo Tribunal Federal conclusão parcial do inquérito, mas pede mais 5 dias de prazo para finalizar investigação envolvendo o presidente e seu ex-assessor
Andreza Matais, Fabio Serapião e Breno Pires | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A Polícia Federal aponta indícios de crime de corrupção passiva cometido pelo presidente Michel Temer e por seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no inquérito aberto com base na delação do empresário Joesley Batista, do Grupo J&F – controlador da JBS. Relatório parcial da investigação foi encaminhado nesta segunda-feira, 19, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF também pediu mais cinco dias de prazo para encerrar a apuração. O inquérito que investiga Temer e Rocha Loures não foi concluído na parte em que são apurados crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. O laudo final da perícia nos áudios gravados por Joesley não foi totalmente finalizado.
O ministro Edson Fachin, relator do caso e da Operação Lava Jato no Supremo, deverá se manifestar nesta terça-feira, 20, sobre a solicitação da PF de mais prazo para o encerramento do inquérito. A conclusão ligada ao indício de corrupção teve como base o laudo referente a duas conversas gravadas entre o executivo Ricardo Saud, da J&F, e Loures. Além disso, foi incluída análise do vídeo em que o ex-deputado é flagrado levando uma mala de R$ 500 mil ao deixar um restaurante em São Paulo. Apesar de tentar indicar outra pessoa para receber os valores – ele sugere o nome de “Edgar” –, o então deputado federal acabou combinando de pegar a mala de propinas em uma pizzaria indicada por ele na capital paulista. O valor, conforme a delação, seria entregue semanalmente pela JBS ao peemedebista, em benefício de Temer, como foi informado, nas gravações, pelo diretor de Relações Institucionais da holding. “Eu já tenho 500 mil. E dessa semana tem mais 500. Então você te um milhão aí. Isso é toda semana. Vê com ele (Michel Temer)”, disse Saud a Loures em um diálogo gravado. Rocha Loures é suspeito de exercer influência sobre o preço do gás fornecido pela Petrobrás à termoelétrica EPE – o valor da propina, supostamente “em benefício de Temer”, como relataram executivos da JBS, é correspondente a 5% do lucro que o grupo teria com a manobra. Perícia O áudio gravado por Joesley da conversa com Temer no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, possui vários trechos inaudíveis. O empresário e delator sustenta que Temer deu aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do operador financeiro Lúcio Funaro para que eles não fizessem delação premiada. Caso Fachin aceite o pedido da PF, o prazo dos delegados se encerrará na no próximo sábado, 24. Depois disso, o inquérito concluso deve seguir para a Procuradoria-geral da República que terá mais cinco dias para decidir se denuncia Temer e Loures ou se arquiva a investigação. A PF disse que não comentaria o pedido de dilação no prazo. Em outras ocasiões, o Planalto negou qualquer prática ilícita envolvendo Temer. Processos Nesta segunda-feira, Temer embarcou para Rússia e Noruega, onde ficará até sexta-feira. Antes de viajar, o presidente ajuizou dois processos contra Joesley. Ele acusa o empresário de agir por “ódio” para prejudicá-lo e “se salvar dos seus crimes”. Uma das ações é por danos morais e outra por difamação, calúnia e injúria. Ambas são assinadas pelo advogado do PMDB, Renato Oliveira Ramos. As petições não estabelecem um valor para a indenização. Caso vença as ações judiciais, Temer pretende doar os valores da indenização a uma instituição da caridade. O presidente também divulgou um vídeo à tarde nas redes sociais no qual disse que “criminosos não ficarão impunes”, como uma forma de resposta às denúncias feitas por Joesley. O empresário, em entrevista à Época, afirmou que o presidente liderava a “maior organização criminosa do País”. Nas ações protocoladas na Justiça Federal e na comum, que são praticamente idênticas, a defesa do presidente afirmou que Joesley “passou a mentir escancaradamente e a acusar outras pessoas para se salvar dos seus crimes” e o acusa de ser “o criminoso notório de maior sucesso na história brasileira”, uma vez que conseguiu um acordo de delação premiada que o permite ficar em liberdade e morar no exterior. Sem citar os governos do PT, o documento afirmou que é preciso “rememorar os fatos” de que o Grupo J&F, do qual Joesley é acionista, recebeu o primeiro financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2005, “muito antes” de Temer chegar ao Palácio do Planalto. Com Temer fora do País, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, terão a missão de reaglutinar a base aliada no Congresso. COLABORARAM ISADORA PERON, TÂNIA MONTEIRO e CARLA ARAÚJO Andréa Neves alega, por seu defensor, que 'todos os fatos' do episódio JBS ocorreram em São Paulo e cita casos de Eduardo Cunha, Delcídio e Palocci que foram deslocados para a primeira instância
O Estado de S.Paulo
O criminalista Marcelo Leonardo pediu ao Supremo Tribunal Federal que remeta para a Justiça Federal em São Paulo o inquérito contra Andréa Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB/MG). O argumento central do advogado é que a Corte máxima já mantém entendimento de que investigados sem foro privilegiado devem se submeter à primeira instância judicial.
No Supremo, pedidos de Andréa têm sido negados sucessivamente. Ela está presa desde 18 de maio.
A defesa citou os casos do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ), do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS), do ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda/Casa Civil-Governos Lula e Dilma) e do ex-presidente Lula. Todos esses processos correm na primeira instância judicial porque os acusados não detêm prerrogativa de foro por função. Andréa foi presa na Operação Patmos, deflagrada em 18 de maio, sob acusação de envolvimento na extorsão de R$ 2 milhões contra o empresário Joesley Batista, da JBS. Em processo de delação premiada, Joesley relatou e gravou encontros com o tucano. “Fiz um pedido para que o ministro (Edson Fachin, do Supremo) reconheca a incompetência do Supremo para julgar os réus que não têm foro por prerrogativa de função e determine deslocamento (dos autos) para a Justiça Federal em São Paulo porque todos os fatos ocorreram em São Paulo. O encontro de Andréa com Joesley foi em São Paulo, encontro de Aécio com Andréa foi em São Paulo, visitas do Frederico (primo do senador) com Ricardo Saud (diretor da J&F, controladora da JBS) foram em São Paulo”, argumenta Marcelo Leonardo. “O Supremo tem decidido de forma uniforme e pacífica, desde 2014, pelo desmembramento (de ações com investigados sem foro especial)”, assinala o advogado. “Vide os processos de Lula, Eduardo Cunha, Palocci, Delcídio, todo mundo foi para a primeira instância.” O caso de Andréa permanece no Supremo por conexão com o irmão senador – cuja prisão preventiva já foi requerida pela Procuradoria-Geral da República e será decidida nesta terça-feira, 20. “Mesmo nos casos com conexão, o Supremo está entendendo que não vai repetir aquele erro que cometeu quando julgou o Mensalão junto com todo mundo. Então, eles (Supremo) estão desmembrando sempre. Hoje (segunda, 19) fiz esse pedido. Joesley Batista prestou depoimento no DF em investigação sobre conta da JBS para Lula e Dilma13/6/2017 Na delação, empresário disse que manteve duas contas no exterior por onde passaram cerca de US$ 150 milhões
Renata Mariz e Thiago Herdy | O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO - O empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud, da JBS, prestaram depoimento na segunda-feira na Procuradoria da República no Distrito Federal em investigação instaurada a partir das delações do grupo. Eles foram chamados para explicar as informações prestadas nos termos de colaboração fechado com a Operação Lava-Jato que envolvem contas no exterior com recursos de propina supostamente destinados aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Os dois ex-presidentes negam a acusação.
Na delação, Joesley narrou que manteve duas contas no exterior por onde passaram cerca de US$ 150 milhões, dos quais US$ 70 milhões teriam sido movimentados em nome de Lula e US$ 80 milhões, de Dilma. Essa parte da colaboração premiada fechada com a Lava-Jato foi desmembrada e encaminhada para a Procuradoria da República no Distrito Federal, que abriu um Procedimento Investigatório Criminal (PIC).
Como Lula e Dilma não têm foro privilegiado, a investigação passa a ser feita em primeira instância. A Procuradoria da República no DF confirma que Joesley e Saud prestaram depoimento nesta segunda-feira em Brasília, mas não informou qualquer detalhe do que foi revelado. O órgão também disse não saber se novas oitivas estão marcadas. O empresário desembarcou neste domingo no Brasil. Segundo informações divulgadas na noite desta terça-feira pela assessoria da JBS, o empresário passou os últimos dias na China, e não nos Estados Unidos, como se supunha em função dos imóveis que ele em Nova Iorque. “Ele se ausentou do Brasil nos últimos dias para proteger a integridade de sua família, que sofreu reiteradas ameaças desde que ele se dispôs a colaborar com o Ministério Público”, escreveu a assessoria de Joesley, em nota. De acordo com o comunicado, o empresário esteve na segunda-feira em reuniões em Brasília. Nesta terça-feira, ele participou de encontros de trabalho em São Paulo. Nos últimos dias, o setor jurídico do grupo J&F, que detém a JBS, vem dando continuidade às investigações internas para oferecer à Procuradoria-Geral da República (PGR) dados complementares à colaboração premiada dos executivos da empresa. Desde quando delatou dezenas de políticos do alto escalão, inclusive o presidente Michel Temer, o grupo J&F tem identificado a ação de técnicos e agentes públicos de diferentes órgãos em ações de fiscalização às suas empresas. Executivos têm interpretado a iniciativa como tentativa de intimidação ao grupo, por isso têm sido orientados por integrantes da PGR a registrar o nome desses funcionários e encaminhá-los ao órgão para que os episódios sejam investigados. Na nota, a empresa informou que ele não revelou que estava na China “por razões de segurança”, e viajou ao exterior “com autorização da Justiça Brasileira”. De acordo com a assessoria do empresário, ele não estava “passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República”. Temer foi questionado pela PF se autorizou que Joesley apresentasse pontos de interesse ao ministro e se isso realmente ocorreu.
Reuters
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta quarta-feira (7) não ter tido conversa com Joesley Batista, um dos donos da J&F, sobre pontos de interesse do empresário ao ser questionado sobre o assunto em Paris.
A Polícia Federal enviou 82 perguntas ao presidente Michel Temer no âmbito da investigação em que é acusado de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa. Em uma delas, Temer é questionado se autorizou que Joesley Batista apresentasse pontos de interesse ao ministro Henrique Meirelles, quais seriam, e se tinha conhecimento se isso realmente tinha ocorrido.
"Do meu ponto de vista eu fiquei sabendo disso pelos jornais", afirmou Meirelles após reuniões na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), demonstrando impaciência com a pergunta. Após ser perguntado em coletiva de imprensa se isso significava que a conversa não aconteceu, o ministro acrescentou: "essa conversa, que ele se referiu ao presidente se poderia ter no futuro, não". Falando a jornalistas, Meirelles comemorou a aprovação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na véspera a despeito do momento conturbado na cena política. "A reforma trabalhista não parou no Congresso por conta de discussões políticas, essa que é a principal mensagem. Além da atividade econômica. O que estou dizendo é que estou focado na questão de como o Brasil prossegue crescendo de um lado e também com sua agenda de reformas", disse. O ministro também se esquivou de responder qual seria a melhor solução para o país numa eventual saída de Temer da Presidência quando perguntado sobre a possibilidade de eleições diretas. "A minha abordagem no momento é exatamente ficar fora dessa discussão e me concentrar na administração da economia brasileira", afirmou. Diretor da J&F entregou notas fiscais 'frias' e 'fictícias'
Diário do Poder
O diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, entregou, como parte de sua delação premiada, ao Ministério Público Federal, contratos e notas fiscais que teriam sido utilizados para dissimular propinas à cúpula do PMDB. Entre os documentos que, segundo o delator, são ‘frios’ e ‘fictícios’, estão números de notas fiscais emitidas pela JBS ao Ibope.
“Fazia pesquisa pra eles [senadores] e pagava com essa propina. o Ibope recebia propina. Nunca fez um serviço para nós”.
O IBOPE reagiu com veemência à denúncia do executivo da JBS sobre emissão de notas fiscais frias. “É com indignação que o IBOPE Inteligência tomou conhecimento da acusação de que emitiu notas fiscais falsas para a JBS como parte de pagamento de propina sem contrapartida de bens ou serviços. O IBOPE Inteligência nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina das empresas do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.” O delator ainda relatou que o Instituto teria sugerido contratos fraudulentos para justificar os repasses da JBS. “Inclusive, eles várias vezes mandavam um contrato com um punhado de pesquisa e falaram: arquiva isso aí direitinho, se amanhã ou depois, se acontecer alguma coisa, você mostra isso aí. Eu falei: ‘ó, rapaz, agora quer me ensinar a roubar dos outros?’” “Nunca fizeram pesquisa pra mim. Pegavam pesquisa nacional e queria pôr no contrato da gente”, relatou. Um dos anexos do acordo de colaboração da JBS com a Procuradoria-Geral da República se refere a um pacotão de R$ 46 milhões ao PMDB nas eleições de 2014, que, segundo os executivos, teriam sido acertados entre o então ministro da Fazenda Guido Mantega e um dos donos da JBS, Joesley Batista. Do total, R$ 35 milhões seriam destinados à cúpula do PMDB no Senado. Saud explica, inclusive, que informou, à época, o então vice-presidente Michel Temer sobre os repasses. “Eu fui lá com o bilhete que o Joesley anotou do que o Guido falou e falei : ‘ó,Temer, ta iniciando a campanha, e o Joesley achou por bem pedir para vir falar com o senhor que já tá iniciando assim, tá doando 35 milhões para o PMDB e pelo que entendi não tá passando pelo senhor’”, relatou. Segundo o delator, no caso de Renan Calheiros, parte das propinas seriam utilizadas para ‘preparar’ a eleição do peemedebista à presidência do Senado e a outra parte teria como destino a campanha do filho dele, ao governo de Alagoas. Os valores repassados ao atual líder do PMDB no Senado chegaram aos R$ 9,9 milhões, de acordo com o delator. Parte deles, foi justificada por meio de pagamentos ao Ibope. “R$ 300 mil em 21/7/ 2014 para o ibope, nota fiscal 14247 – ibope nacional. Fazia pesquisa pra eles e pagava com essa propina. o ibope recebia propina. nunca fez um serviço para nós”, relatou. Outra empresa de comunicação que entra na lista de propinas da JBS é a GPS Comunicação, para quem a JBS emitiu duas notas fiscais: uma delas no valor de R$ 800 mil e outra no valor de R$ 900 mil. Saud listou os pagamentos feitos a pedido de Renan Calheiros: – ‘R$ 1 milhão ao diretório estadual do PMDB em Alagoas, ‘carimbado para Renan Filho’. – R$ 500 mil ao PMDB do Amapá, ‘por ordem do Renan’. – R$ 300 mil ao PMDB de Sergipe, ‘por ordem de Renan Calheiros’. – R$ 455 mil ao PMDB Nacional, ‘carimbados por Renan’. – R$ 300 mil para o PT do B Nacional, ‘por ordem do Renan’. “Então, o que entendi disso aí, das conversas que a gente teve lá com ele, que ele já estava jogando alguns senadores, o senhor vai ver mais embaixo, para preparar a eleição dele para a presidência do Senado. Assim como fez o Eduardo Cunha também, que o senhor vai ver mais na frente”, relatou Saud. Renan Calheiros (PMDB-AL) ainda pediu R$ 4 milhões ‘em dinheiro vivo’, de acordo com o diretor da J&F. Ele relatou que parte foi levada à casa do senador, em Alagoas, e outra parte entregue ao diretório estadual do PMDB. Já Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) teria recebido R$ 3 milhões, para campanha ao governo do Rio Grande do Norte, em 2014. Do total, R$ 1 milhão foi doado oficialmente ao PMDB Nacional, ‘em nome do Henrique’ e outra parte foi por meio de contratos de advocacia e de consultoria, e termos firmados com o Ibope. (AE) Ricardo Saud fez longo relato de supostas negociações de propinas.
Diário do Poder
O depoimento do executivo Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F, é apontado pelos investigadores da Operação Patmos como um dos mais fortes indícios reunidos contra o presidente Michel Temer, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
Saud fez aos procuradores da força-tarefa da Operação Patmos, que mira também o senador Aécio Neves (PSDB/MG) e o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB/PR), um longo relato de supostas negociações de propinas.
Em um trecho do seu relato, o diretor da J&F, controladora do grupo JBS, reconstituiu um encontro com Loures. “O Rodrigo Rocha Loures era um mensageiro só. A gente tinha acertado tudo com Michel Temer.” “Tratamos com o Temer e não com o Rodrigo. O Rodrigo foi um mensageiro.” Em outro ponto do depoimento, gravado em vídeo, Saud falou sobre uma propina que se arrastaria por 30 anos. “Isso é uma aposentadoria para o Michel. É uma aposentadoria para você (Loures) e o Michel. Vocês não vão ter mais dificuldade.” Loures foi flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil de propina da JBS na Rua Pamplona, Jardins, em São Paulo. Agentes da Polícia Federal o filmaram quando entrava apressado em um táxi. Na segunda-feira, 22, sua defesa entregou à PF a mala, mas com R$ 35 mil a menos. Loures não explicou o que fez com o dinheiro. (AE) ‘É muito pouco’, disse Eunício Oliveira (PMDB), sobre propina de R$ 5 milhões, segundo delator21/5/2017 Em delação premiada, o diretor da J&F Ricardo Saud relatou que o peemedebista pediu propina para ‘os pares’ dele em troca de mudanças em Medida Provisória em benefício de empresários de produtos lácteos
Luiz Vassallo | O Estado de S.Paulo
O presidente do senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) pediu R$ 5 milhões à JBS em troca de edição de Medida Provisória que concederia benefícios fiscais a parte dos empresários do setor de produtos lácteos, alegou o diretor de Relações Institucionais e Governo da J&F Ricardo Saud, em delação premiada. Segundo o empresário, o peemedebista teria dito que o valor é ‘muito pouco’, mas que seria destinado aos ‘pares’ dele no Congresso. As tratativas aconteceram em 2013, contou o delator.
“Isso aí você sabe, tem um custo aí, vamos fazer um custo de 5 milhões, isso é muito pouco, mas para eu ajudar meus pares, teria dito Eunício Oliveira, hoje, presidente do Senado, ao diretor da J&F.
Ricardo Saud, da J&F, relatou que a Associação Viva Lácteos – de empresários da indústria de laticínios – pediram ajuda ao presidente da Vigor – pertencente à J&F -, Guilherme Xandó, para que a empresa se aproveitasse da ‘força política’ para alterar uma Medida Provisória ‘que tratava de PIS Cofins’. Na versão do colaborador, ao MPF, havia um grupo empresarial ‘falido’ que pleiteava um crédito de R$ 100 milhões de PIS/Cofins. “Essa empresa com 100 milhões [de crédito], e ela vale R$ 2 milhões hoje, alguém vai comprar por R$ 2 ou R$ 3 milhões e vai receber 100, usar o crédito e ativar as outras empresas”. “Pedi uma ajuda ao Romero Jucá, ele me ajudou, nunca pediu propina, e ele disse: olha, agora, você tem que ir atrás do Eunício. Ele era o relator”, relatou Saud. Em uma primeira reunião com o senador, em 2013, o executivo relatou já ter oferecido ‘ajuda na campanha’, ‘igual sempre fizeram’, em troca da alteração na Medida Provisória relatada pelo peemedebista. Após o pedido de R$ 5 milhões, o delator afirma ter negociado: “Eu disse: ‘Eunício, mas a gente é parceiro há muito tempo. Você vai cobrar isso no grupo, 5 milhões’. Ele: ‘vou cobrar isso da associação’. Ele já sabia que era a associação inteira”. Saud explica que foi realizada uma reunião entre os empresários e o senador e que, durante o encontro, o texto foi alterado, e os empresários ‘saíram de lá com uma proposta de R$ 5 milhões’. Os pagamentos ‘dissimulados’ teriam sido feitos ao Diretório Nacional do PMDB. Apesar da propina de R$ 5 milhões, meses depois, o peemedebista teria alterado o projeto, de forma desfavorável à associação. “Ele era meu amigo. 8 meses depois, ele foi relator de outra medida provisória e voltou atrás. E priorizaram esse povo aí. Esse tipo de negócio, depois de pago, não tem mais jeito. Como é que eu vou falar:’ você tá me roubando’! Você acha que terei o dinheiro de volta?”, relatou. COM A PALAVRA, EUNÍCIO OLIVEIRA Nota à Imprensa O senador Eunício Oliveira afirma que os diálogos relatados pelo delator são imaginários, nunca aconteceram, são mentirosos, como é possível constatar na prestação de contas do diretório nacional de PMDB ao TSE. No ano de 2013 não há doações ao partido conforme diz o delator, como é possível constatar nas prestações de contas do diretório nacional, que são públicas e podem ser verificadas nas declarações ao TSE. Como relator revisor, o senador recebeu representantes do setor sim, como é absolutamente normal em casos de relatoria. O senador Eunício Oliveira não usa e nunca usou suas funções legislativas para favorecer empresas públicas ou privadas. As contribuições eleitorais do grupo JBS para a companha de 2014 aconteceram sim, e estão devidamente declarados à justiça eleitoral na prestação de contas do candidato Eunício Oliveira. Assessoria de Imprensa Senador Eunício Oliveira Brasilia, 19.05.2017 STF decidirá 4ª feira sobre suspensão de inquérito de Michel Temer (PMDB); áudios foram para perícia20/5/2017 O gabinete da presidente da Corte, Cármen Lúcia, informou que o pedido de suspensão do inquérito 'foi oficiado pelo ministro relator à presidência do STF'
Beatriz Bulla | O Estado de S.Paulo
O Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar em plenário, na próxima quarta-feira, o pedido da defesa do presidente Michel Temer para suspender o inquérito contra o peemedebista. O gabinete da presidente da Corte, Cármen Lúcia, informou neste sábado, 20, que o pedido de suspensão “foi oficiado pelo ministro relator à presidência do STF, e será levado ao colegiado na próxima quarta-feira”. Com isso, os 11 ministros do Supremo irão decidir sobre a continuidade ou paralisação do inquérito.
O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, também encaminhou para a Polícia Federal os autos do inquérito para perícia no áudio gravado pelo delator Joesley Batista em conversa com Temer. Neste sábado, em pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer anunciou que iria pedir a suspensão, alegando que a gravação foi “manipulada e adulterada”.
Em nota divulgada no final da tarde, a J&F, holding que controla a JBS, reafirmou que o empresário Joesley Batista entregou à Procuradoria Geral da República a gravação da conversa com o presidente Michel Temer sem cortes. O texto reafirma e que os delatores têm como sustentar a idoneidade do material. Diz o comunicado: “Joesley Batista entregou para a Procuradoria Geral da República a íntegra da gravação e todos os demais documentos que comprovam a veracidade do material que sustenta as delações. Não há chance alguma de ter havido qualquer edição do material original, porque ele jamais foi exposto a qualquer tipo de intervenção.” O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a Fachin a continuidade do inquérito que investiga o presidente Michel Temer, mas não se opôs à realização de perícia no áudio. Janot aponta que a gravação é “harmônica e consentânea” com o relato dos delatores do grupo J&F. “Não obstante, embora certo de que o áudio não contém qualquer mácula que comprometa a essência do diálogo, o procurador-geral da República não se opõe à perícia no áudio que contém conversa entre Michel Temer e Joesley Batista no dia 7 de março de 2017, no Palácio do Jaburu”, escreveu Janot. Ele destaca na manifestação ao STF que a perícia deve ser realizada sem suspensão do inquérito, que serve, segundo Janot, “justamente para a apuração dos fatos e para a produção de evidências, dentre elas perícias técnicas”. Procuradores que negociaram as delação premiada informaram ao Estadão/Broadcast que não fizeram perícia no material. Peritos consultados pelo Estado não foram conclusivos. Foram encontradas no áudio 14 “fragmentações” – pequenos cortes de edição. Mas, segundo o perito Marcelo Carneiro de Souza, para se ter uma laudo mais conclusivo seria melhor avaliar o gravador e fazer um confronto entre as vozes de Temer e Joesley. Conversa A conversa entre Joesley e Temer ocorreu no início de março, no Palácio do Jaburu. No encontro, o empresário narra ao presidente da República medidas que têm adotado para contornar as investigações que recaem sobre ele e a JBS, entre elas o pagamento de uma mesada a um procurador da República para obter informações privilegiadas. Joesley também pergunta ao presidente quem é o interlocutor do peemedebista e recebe de Temer a indicação do nome do deputado Rodrigo Rocha Loures. Em conversas com Loures, também gravadas, Joesley negocia o pagamento de propina e realiza a entrega de R$ 500 mil em dinheiro – o que foi flagrado em gravação feita numa ação controlada pelos investigadores. O presidente também ouve de Joesley sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMBD) e o operador Lúcio Funaro, ambos presos na Lava Jato. Após Temer dizer que o deputado cassado tenta fustigá-lo, Joesley diz que está em bom relacionamento com Cunha. O presidente responde: “Tem que manter isso, viu?”, ao que Joesley diz “Todo mês”. |
AutorLuiz Maia Histórico
Julho 2017
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