Aldemir Bendine usou influência na Petrobras para pedir R$ 17 milhões à Odebrecht, dizem delatores14/4/2017 Ex-presidente da estatal teria recebido 'comissão' por um empréstimo negociado à Odebrecht Agroindustrial quando presidia o Banco do Brasil.
Por G1
Delatores da Odebrecht disseram que o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine usou sua influência assim que assumiu o comando da petroleira, em fevereiro de 2015, para “achacar” executivos da Odebrecht em troca de uma "comissão" de R$ 17 milhões, referente a um empréstimo concedido a uma das empresas do grupo quando ele ainda presidia o Banco do Brasil.
O relato está na petição da Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar Bendine, encaminhada à Justiça Federal do Paraná pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. A petição se baseia nos depoimentos do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e do ex-presidente e fundador da Odebrecht Agroindustrial, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis.
Dívida com o Banco do Brasil Segundo o documento, os delatores afirmam que, entre os anos de 2014 e 2015, foram procurados por Bendine, quando era presidente do BB, pedindo vantagem indevida para conceder um empréstimo à Odebrecht Agroambiental (unidade de açúcar e etanol do grupo). Segundo Marcelo Odebrecht, Bendine pediu a Reis uma comissão de 1% para reestruturar uma dívida de R$ 1,7 bilhão do Banco do Brasil com a Odebrecht Agroindustrial, quando ainda era presidente do banco, em 2014. O pedido teria sido feito por intermédio do publicitário André Gustavo Vieira. Em seu depoimento, Reis disse que Vieira indicou que Bendine antes só recebia as ordens para “fazer as coisas”. A intenção era criar um novo canal direto com Bendine para as negociações, dizem os delatores. Marcelo relata ter negado o pedido. “Não concordei, achei que não era o caso. A gente nunca tinha visto isso no Banco do Brasil”, disse o delator. O empréstimo foi liberado sem o pagamento de propina depois de alguns meses, com atraso, segundo Reis, quando Bendine já estava à frente da Petrobras. Nomeação na Petrobras Pelos depoimentos de Reis e Odebrecht, a coisa “mudou de figura” quando Bendine foi confirmado para assumir a presidência Petrobras em meio à crise desencadeada pela operação Lava Jato, em janeiro de 2015 (no vídeo acima, veja a partir dos 3’05”). Ele assumiu o lugar de Graça Foster com a missão de salvar a reputação da empresa, desestruturada pelas denúncias de corrupção. “[Com a Petrobras] a agenda da Odebrecht era mais densa e sensível, principalmente pelos efeitos da Lava Jato”, relata Reis. À época, os executivos dizem que passaram a ser procurados por Bendine, que os chamou para uma reunião. Segundo o relato de Reis, o novo presidente da Petrobras disse ter sido encarregado pela presidente Dilma como “interlocutor do governo” para tratar de questões com o empresariado a fim de atenuar os efeitos da Lava Jato. “A gente estava cedendo por conta da posição dele como presidente da Petrobras, nada a ver com o Banco do Brasil ou a Odebrecht Agroindustrial”, diz Marcelo Odebrecht. De acordo com Reis, Bendine falou de questões da Petrobras e menciou ao final da reunião que seria importante os executivos reconhecerem o trabalho feito pelo BB quanto ao crédito da Odebrecht Agroindustrial. “Uma coisa eu sabia era a capacidade dele de incomodar a gente com um empréstimo no Banco do Brasil que tinha embasamento técnico. Outra coisa era a Petrobras”, relata Odebrecht no vídeo, mencionando o fato de que tudo mudou quando Bendine se tornou um dos interlocutores com as empresas envolvidas na Lava Jato. “Imagine a situação”. Pagamento em 3 parcelas Marcelo conta que após ter resistido ao que chamou de “achaque” por parte de Bendine, autorizou um pagamento bem menor que os R$ 17 milhões solicitados, de três parcelas de R$ 1 milhão. Duas delas teriam sido feitas quando ele já estava preso, em junho de 2015. A petição número 6.646 cita que o pagamento foi feito pela equipe de Hilberto Silva, apontado na Lava Jato como integrante do setor de propinas da construtora. “A gente estava cedendo por conta da posição dele como presidente da Petrobras, nada a ver com o Banco do Brasil ou a Odebrecht Agroindustrial”, diz Marcelo. Após os três pagamentos, Reis relata que o publicitário ligado a Bendine o convidou para almoçar com ele em São Paulo para dar um “abraço de solidariedade”. Ao fim do encontro, foi comentado com o publicitário que os pagamentos não poderiam ser reativados, em um momento em que o departamento de “propinas” da Odebrecht já havia sido desativado em meio à Lava Jato. Procurado pelo G1, Bendine não se pronunciou. Ele presidiu o BB durante 2009 e 2015, quando assumiu a presidência da Petrobras, e renunciou ao cargo em maio de 2016.
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Ministro relator da Lava Jato, no Supremo, autoriza investigações também contra outros cinco senadores tucanos - José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES) e Dalírio Beber (SC)
Breno Pires e Fábio Fabrini | O Estado de S.Paulo
O ministro Edson Fachin autorizou a abertura de inquéritos contra seis senadores tucanos, com base nos depoimentos de delatores da Odebrecht. Presidente nacional do PSDB e candidato derrotado à Presidência em 2014, Aécio Neves (MG) é alvo de cinco dessas investigações por suposta solicitação de propinas e doações de caixa 2 à empreiteira.
Além de Aécio, também são alvos José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES) e Dalírio Beber (SC). Há também um pedido de investigação sobre o tucano Eduardo Amorim (SE) e a senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), pendente de manifestação de Janot para que Fachin decida a respeito. O Estado teve acesso, com exclusividade, aos despachos de Fachin assinados eletronicamente no dia 4 de abril.
Aécio foi citado nos depoimentos do herdeiro da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, do ex-diretor da empreiteira em Minas Sérgio Luiz Neves, de Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, do ex-vice presidente da Odebrecht S.A Henrique Serrano do Prado Valladares e de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais do grupo em Brasília. Num dos pedidos, o procurador requereu investigação sobre Aécio e Anastasia, seu aliado, por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os colaboradores revelaram que, em 2010, a pedido de Aécio, pagaram R$ 5,4 milhões em “vantagens indevidas” para a campanha de Anastasia ao governo de Minas. Os delatores contaram ainda que, também por solicitação de Aécio, quando ainda era governador, desembolsaram em 2009 R$ 1,8 milhão para a campanha de Anastasia. No documento enviado ao Supremo, Janot também requer investigação sobre Oswaldo Borges, ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), estatal responsável pela construção da Cidade Administrativa, e Paulo Vasconcelos, marqueteiro responsável pelas campanhas dos tucanos mineiros. Janot requereu também a abertura de inquérito para investigar supostas condutas de Aécio e do deputado federal Dimas Fabiano Toledo Júnior (PSDB-MG). Os delatores apontaram que, em 2014, pagaram, a pedido de Aécio, caixa dois para a campanha dele e de vários outros parlamentares, como Anastasia, o próprio Dimas e o ex-ministro Pimenta da Veiga, candidato derrotado ao governo de Minas naquele ano. Nesses dois casos, o procurador apontou suspeitas de corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro. Há ainda um terceiro pedido de investigação por conta de outros repasses eleitorais em 2014. Segundo os delatores, Aécio requereu naquele ano vantagens indevidas para si e aliados. Janot solicitou um quarto inquérito para apurar indícios de corrupção, formação de cartel e fraude a licitações na construção da Cidade Administrativa, nova sede do governo mineiro, construída na gestão de Aécio. O procurador-geral justificou que os delatores relataram, apresentando prova documental, que o tucano, recém-empossado para o segundo mandato como governador, organizou em 2007 esquema para fraudar processos licitatórios, mediante organização de um cartel de empreiteiras, na construção do complexo, que custou cerca de R$ 2 bilhões. O objetivo seria obter “propinas” decorrentes dos pagamentos das obras. Um quinto pedido de inquérito se refere ao pagamento de suborno para que Aécio favorecesse interesses da Odebrecht, em conluio com a Andrade Gutierrez, nas obras das usinas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau. Os delatores relataram a promessa e o pagamento de vantagens indevidas em benefício do senador e do PSDB. Valladares contou que a empreiteira pagava prestações de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, repassados pelo Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas do grupo, para “Mineirinho”, codinome atribuído a Aécio. Marcelo Odebrecht disse que Aécio tinha forte influência na área energética, pois o governo mineiro controlava a Cemig, uma das sócias de Santo Antônio. Por isso, segundo ele, o grupo concordou com os pagamentos. Janot sustenta em seu pedido haver indícios de corrupção ativa e passiva, além de lavagem de dinheiro, no caso. José Serra Fachin autorizou que o senador José Serra (SP) seja investigado juntamente com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, senador licenciado, por suposto recebimento de propina nas obras do Rodoanel. Eles foram citados por sete delatores. Os colaboradores relataram que Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Correa, Serveng Civilsan, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão, CR Almeida, Constran e Odebrecht fizeram conluio para fraudar a licitação do empreendimento.Segundo eles, representantes das empresas se reuniram com integrantes da Dersa, concessionária paulista de estradas, para combinar ajustes no edital, o que teria sido atendido. A Odebrecht, conforme os depoimentos, venceu a concorrência pelo lote 2 da obra e, logo em seguida, teria sido cobrada a pagar R$ 1,2 milhão por Mário Rodrigues Júnior, então diretor de Engenharia da Dersa. O dinheiro se destinaria a campanhas eleitorais. Os colaboradores contaram que, em 2007, Serra, então governador de São Paulo, publicou decreto impondo às empresas a renegociação de contratos. Na época, a Dersa estava sob comando de Paulo Vieira Sousa. Após a repactuação, Paulo Vieira teria solicitado 0,75% do valor recebido por cada empresa no contrato para não fazer alterações contratuais prejudiciais. A Odebrecht teria pago R$ 2,2 milhões para a offshore Circle Technical Company Inc, que pertenceria a Amaro Ramos, apontado como operador PSDB. Os repasses, no entanto, teriam parado após investigações do Ministério Público Federal e do Tribunal de Contas da União, que concluíram pela ilegalidade das alterações contratuais. Os colaboradores também narram a ocorrência de solicitação de vantagem indevida, a pretexto de doação eleitoral, pelo então chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Aloysio Nunes. Ele teria sido beneficiado com R$ 500 mil. Um dos delatores, o ex-presidente da Odebrecht Pedro Augusto Ribeiro Novis, que presidia o Conselho Administrativo da Braskem (controlada pela Odebrecht), contou ter feito diversas contribuições para Serra. O objetivo seria manter boas relações com ele e obter auxílio em obras de infraestrutura, concessões na área de transporte e saneamento em São Paulo. Novis citou pagamento de ao menos R$ 6 milhões para campanhas do tucano, supostamente operado por meio de depósitos em contas correntes mantidas no exterior e indicadas por Amaro Ramos. No documento enviado ao Supremo, Janot diz que no governo Serra a Odebrecht sagrou-se vencedora em diversas licitações. Nesse contexto, em 2008, o tucano teria pedido diretamente ao Grupo Odebrecht o pagamento de R$ 3 milhões, a pretexto de “contribuição à Prefeitura de São Paulo”. Em 2009, o então presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, morto em 2014, teria pedido a Novis outros R$ 3 milhões para bancar campanhas majoritárias, inclusive a de Serra à Presidência, em 2002. Novis contou que condicionou os repasses ao pagamento de dívidas do governo paulista. Guerra teria afirmado que os atrasos seriam “adimplidos”, desde que 15% dos valores fossem transferidos ao próprio PSDB. O acerto teria sido confirmado pelo então governador, Serra. Novis teria autorizado pagamentos de R$ 23,3 milhões. Os pagamentos teriam sido tratados entre representantes da Odebrecht e os ex-deputados Ronaldo César Coelho e Márcio Fortes, ligados a Serra. Janot sustenta que as condutas apontam para a prática de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e fraude a licitações. Mais três Fachin também autorizou a abertura de inquéritos contra mais três senadores tucanos, com base nas delações e documentos apresentados pela Odebrecht. Em seus depoimentos, os executivos Alexandre José Lopes Barradas e Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis narraram que, em 2014, Cássio Cunha Lima solicitou e recebeu, por meio de um intermediário de nome “Luís”, o valor de R$ 800 mil. O caixa dois teria sido pago ao senador, então candidato ao governo da Paraíba, com a expectativa de receber realizar obra de saneamento no Estado. O pagamento foi feito pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e lançado nas planilhas de propinas em nome do beneficiário “Prosador”. Para Janot, há indícios de que Cássio cometeu falsidade ideológica eleitoral. Houve também pedido de inquérito sobre o senador Ricardo Ferraço (ES), por conta de declarações dos executivos Sérgio Luiz Neves e Benedicto Júnior. Eles contaram ter pago caixa dois de R$ 400 mil para a campanha do tucano ao Senado em 2010, também por meio do Setor de Operações Estruturadas. O beneficiário foi identificado pelo codinome “Duro”. Janot requereu ainda inquéritos contra Dalírio José Beber (SC) e Eduardo Amorim (SE). Segundo delatores, em 2012, a Odebrecht identificou candidatos a prefeito em Santa Catarina com chances de êxito nos municípios em que detinha concessões. Beber, articulador da campanha de Napoleão Bernardes em Blumenau, teria participado de uma reunião para entabular repasse de R$ 500 mil ao aliado. O sistema de propinas da empreiteira registrou o pagamento para “Conquistador”. Nesse caso, Janot aponta indícios de corrupção passiva e ativa, além de lavagem de dinheiro. Em outro pedido, o procurador requer investigação sobre Amorim e Maria do Carmo Alves (DEM-SE). Eles foram mencionados em depoimentos de dois delatores. Os colaboradores relataram pagamentos de caixa dois, no valor de R$ 600 mil, para as campanhas de Maria do Carmo ao Senado e de Amorim ao governo de Sergipe. Os repasses teriam sido solicitados por João Alves, então prefeito de Aracaju e marido da senadora. A quantia foi lançada nas planilhas do setor de propinas em nome de “Branquinho”. Os pagamentos, segundo os delatores, seriam sido motivados pela expectativa de favorecimento à Odebrecht em projetos de saneamento básico. Para Janot, há indícios de falsidade ideológica eleitoral no caso. Ao analisar a solicitação, Fachin determinou que, considerando a pena máxima para o delito e a idade de Maria do Carmo, de 75 anos, o procurador se manifeste primeiro sobre a eventual extinção de punibilidade da senadora. Ele ordenou a remessa dos autos à PGR. |
AutorLuiz Maia Histórico
Julho 2017
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