Três executivos da Odebrecht relataram que lobista José Amaro Ramos recebeu valores não-contabilizados na conta de uma offshore, no Uruguai, entre 2010 e 2014
Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso | O Estado de S.Paulo
O chefe do setor de infraestrutura da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Junior confessou à Operação Lava Jato que a empresa pagou 40 milhões de euros para o lobista José Amaro Pinto Ramos para fechar o contrato de parceria com a gigante francesa DCNS para a construção de cinco submarinos – um deles, movido a energia nuclear – para a Marinha brasileira. O negócio teve propinas para o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luis Pinheiro da Silva e para o PT.
“Aprovei pagamentos a José Amaro Ramos no valor de aproximadamente EUR 40 milhões, com recursos não-contabilizados, os quais foram realizados em parcelas ao longo da execução do contrato”, revelou o executivo, em sua delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O projeto de submarinos – quatro convencionais e um nuclear -, orçado inicialmente em 6,7 bilhões de euros, só saiu do papel após parceria com a França. Atualmente, a previsão é de R$ 31,8 bilhões de gastos. O programa foi entregue a um consórcio formado pela Odebrecht, pelo estaleiro francês DCNS, cujo principal acionista é o governo da França, e a Marinha brasileira. “Os pagamentos foram operacionalizados pela equipe de Hilberto Silva (chefe do ‘setor de propinas’), que providenciou transferências bancárias para conta no exterior de José Amaro Ramos.” Os repasses foram feitos entre 2010 e 2014. “Eu tenho ideia do que ele fazia com o dinheiro, mas ele nunca me disse. Os pagamentos foram feitos e eu sou o responsável e estão registrados no sistema Drousys (sistema de comunicação seguro do setor de propinas).” BJ, como é conhecido o delator, afirmou que os pagamentos foram feitos para uma empresa de Amaro Ramos no Uruguai. Ele entregou para os procuradores da República da Lava Jato os extratos de transferências para contas do lobista e também os registros de liberação e ordenamento dos pagamentos para ele, identificado pelo codinome “Champagne”. A offshore do lobista usada para receber os valores foi a Casu Trust & Management Services S.A.. Os documentos entregues pelo delator mostram que os valores saíram de uma conta de uma offshore da Odebrecht, a Strategic Project Planning. Segundo o delator, houve também pagamentos no Brasil. Questionado pelos procuradores da Lava Jato, sobre qual motivo levou a Odebrecht a pagar 40 milhões de euros, ele afirmou que quando ele assinou a parceria com os franceses da DCNS, foi exigido que ele fizesse os pagamentos para o lobista. BJ afirmou que foi José Amaro que o procurou no final de 2006 e começo de 2007 com a proposta de que a Odebrecht “fechasse uma parceria com a DCNS, na implantação da base e do estaleiro naval para construção de submarinos convencionais e nuclear financiados pela França”. “Eu acredito que ele (José Amaro) deveria ter alguns almirantes da reserva que ajudaram na concepção do projeto nuclear envolvidos, deveria ter o Ohon porque ele me procurou depois para que eu ajustasse com ele um contrato de consultoria e eu percebi que ele tinha uma proximidade com os franceses.” O delator afirmou que José Amaro opera no mercado de armas para o Brasil há muitos anos, como representante de indústrias do setor de defesa e que já esteve com ele em uma casa que ele tem em na 5ª Avenida, de frente para o Central Park. Eletronuclear Othon é o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luis Pinheiro da Silva, que já foi preso pela Lava Jato, em Curitiba, por receber propinas nas obras da Usina Termonuclear de Angra 3. O delator afirmou que pagou por consultorias do ex-agente público. “Orientei que Fabio Gandolfo operacionalizasse os referidos pagamentos. Os pagamentos para Othon Pinheiro foram realizados durante os anos de 2012, 2013 e 2014 com recursos de caixa 2 pela equipe de Hilberto Silva, com recursos não contabilizados”, disse o delator. “Foram apurados pela Companhia pagamentos no montante de EUR 1,5 milhão, por meio de transferências bancárias em contas indicadas por Othon Pinheiro nos anos de 2012 e 2013 e, ainda, o valor aproximado de R$ 1,2 milhão no ano de 2014.” O almirante é identificado nas planilhas da Odebrecht como “Mergulhador”. José Amaro tem relações de negócios com o ex-presidente da Eletronuclear, segundo já havia descoberto a Lava Jato. Uma empresa dele fou sócia da Aratec, usada por Othon para receber propinas de Angra 3. PT O delator afirmou que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso pela Lava Jato, em Curitiba, desde abril de 2015 – também cobrou propina ao partido nesse contrato dos submarinos. Ao PT, via Vaccari, teriam sido pagos R$ 17 milhões pelo Setor de Operações Estruturadas. Segundo o executivo da Odebrecht, assim que foi fechado o acordo de cooperação com a DCNS e foi efetuada a liberação de um adiantamento de R$ 650 milhões, Vacarri o procurou no Rio “para solicitar que fossem realizados pagamentos ao PT por conta da conquista do projeto”. “Informei que não concordava em realizar o pagamento, por não ter havido combinação prévia, mas ele insistiu.” Segundo BJ, o assuntou foi levado a Marcelo Bahia Odebrecht, presidente afastado do grupo, que está preso desde junho de 2015, pela Lava Jato, em Curitiba. Conta ‘Italiano’ Odebrecht afirmou à Justiça Eleitoral que a Odebrecht Infraestrutura ficou responsável por pagar R$ 50 milhões do montante acertado com o PT para a campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, para que as liberações de dinheiro do governo no contrato de construção dos submarinos não parassem. Odebrecht revelou que a empresa acertou, ao todo, R$ 150 milhões para a campanha de reeleição de Dilma. O ex-ministro Antonio Palocci, identificado sob o codinome “Italiano”, seria o principal interlocutor do empresário nas negociatas. O programa foi lançado em 2008, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista chegou a assinar uma “parceria estratégica” com o então mandatário da França, Nicolas Sarkozy. A DCNS ficou responsável pela transferência de tecnologia ao País e escolheu a Odebrecht como parceira nacional no projeto, sem realização de licitação. Segundo a Marinha, o Prosub engloba “três grandes empreendimentos modulares”. “A construção de uma infraestrutura industrial e de apoio para construção, operação e manutenção dos submarinos, a construção de quatro submarinos convencionais e o projeto e a construção do submarino com propulsão nuclear.” “O Programa foi concebido por meio da parceria estratégica estabelecida entre o Brasil e a França, a partir de 23 de dezembro de 2008, quando foram firmados acordos de nível Político e Técnico e Comercial, com o valor inicial para a sua consecução de 6,7 bilhões de Euros. O valor estimado até o final do Programa, cadastrado no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo Federal (SIOP), é de cerca de R$ 31,85 bilhões. O Prosub havia sido citado em relatório da 36.ª fase da Lava Jato, denominada Ommertá. A citação se deu pelas anotações sobre o programa encontradas em celulares do presidente afastado da empreiteira Marcelo Odebrecht. No caso, segundo a Polícia Federal, o assunto Prosub estava relacionado à atuação do ex-ministro Antônio Palocci, que tratava com a empreiteira assuntos ligados ao projeto. O caso foi enviado para a Justiça Federal no Rio de Janeiro, por não envolver alvos com foro privilegiado. COM A PALAVRA, A DEFESA DE JOSÉ AMARO RAMOS O advogado Álvaro Luís Fleury Malheiros, que representa José Amaro Ramos, informou que seu cliente recebeu aproximadamente 17,5 milhões de euros – e não 40 milhões de euros, como informou o delator da Odebrecht Benedicto Júnior, o ‘BJ’. Segundo Malheiros, o dinheiro foi pago pela empreiteira a título de honorários. Ramos, segundo seu advogado, recebeu porque levou para a Odebrecht um negócio importante, de grande porte, e também pela atuação intensa que promoveu entre duas sociedades que fecharam parceria. O advogado esclareceu que a empresa francesa (DCNS) para a qual Ramos vinha trabalhando tinha intenção de fazer parceria com uma empreiteira também francesa no Brasil para construção do estaleiro e da base naval, necessários para implantação do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub). Malheiros destacou que Ramos fazia assessoria para a acionista principal e controladora da DCNS. “Ele mostrou que para a DCNS seria mais importante arrumar um parceiro que fosse uma empresa nacional. Aí apresentou esse projeto para a Odebrecht que acabou pagando honorários a ele.” “O dr. Ramos foi fundamental para o avanço e o êxito desse projeto”, afirma Malheiros. O advogado informou que Ramos declarou o recebimento dos valores. “Tudo está perfeitamente regularizado.” Sobre o codinome Champagne, pelo qual Ramos era identificado numa planilha da empreiteira, o advogado declarou. “Essa questão de codinome é uma questão interna da Odebrecht.” COM A PALAVRA, A MARINHA DO BRASIL Por meio de nota, a Marinha do Brasil (MB) informou que “desconhece qualquer irregularidade sobre os pagamentos do contrato de construção dos submarinos do Programa de Desenvolvimento de Submarino (PROSUB)”. “Por esse motivo, não há qualquer investigação (interna) em andamento”.
0 Comentários
Doleiros de Sérgio Cabral (PMDB) ‘estocavam’ dinheiro vivo em salas comerciais no Rio, diz delator9/3/2017 Na sexta denúncia criminal contra ex-governador, Ministério Público Federal cita Enrico Machado que detalha a rotina de uma complexa rede de lavagem de dinheiro utilizada pelo peemedebista
Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo | O Estado de S.Paulo
Na mais nova denúncia contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) – a sexta acusação, a sexta vez que ele vai para o banco dos réus -, a Procuradoria da República detalha ainda mais a complexa rede de lavagem de dinheiro utilizada pelo grupo do peemedebista e revela que, além do ex-governador, os doleiros que operavam para ele também mantinham relação ‘estreita’ com a Odebrecht e chegavam a usar salas comerciais no Rio de Janeiro para ‘estocar’ o excedente do dinheiro ilícito que movimentavam.
“Que existiam no Brasil quartos que serviam como caixa-forte para guardar valores em espécie; que estes quartos eram em salas comerciais espalhadas pela cidade de Rio de Janeiro e as utilizavam durante cerca de 1 ano”, disse o delator Enrico Machado, dono de uma instituição financeira em Antígua que atuava no mercado paralelo e tinha o doleiro Vinícius Claret, o ‘Juca Bala’ entre seus clientes.
O depoimento foi utilizado na denúncia para detalhar a atuação de ‘Juca Bala’, o elo encontrado pela Procuradoria entre o Setor de Operações Estruturadas – nome formal do ‘Departamento de Propinas’ da Odebrecht – e o ex-governador do Rio, acusado de receber US$ 3 milhões da empreiteira via transferências internacionais feitas pelo doleiro. Enrico Machado fala sobre a atuação do grupo de ‘Juca Bala’, preso na sexta-feira, 3, no Uruguai por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Criminal Federal do Rio, e também denunciado nesta quarta-feira, 8. O delator não especifica se eles valores ‘estocados’ foram destinados a Cabral ou a outros integrantes do grupo do peemedebista. Enrico, contudo, relata que ‘Juca Bala’ e seu sócio Claudio Souza atuam há mais de dez anos no mercado paralelo. Segundo a versão do delator, ‘Juca Bala’ e outros doleiros atuavam no Rio até 2002, mas decidiram se mudar para o Uruguai pois estavam ‘sendo monitorados’. “Quando a organização pertencente à casa de câmbio controlada por Modok Esser identificou que estavam sendo monitorados, interromperam as operações no Rio de Janeiro e resolveram transferir as atividades para Montevidéu no Uruguai”, afirmou. Na ocasião, o responsável por abrir a empresa de fachada no país teria sido o advogado Oscar Algorta, denunciado pela Lava Jato em 2015 sob acusação de ter ajudado o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró a lavar dinheiro na compra de um apartamento de R$ 7,5 milhões em Ipanema, em 2009. Algorta foi apontado como responsável pela criação da offshore Jolmey no país, utilizada por Cerveró para lavar de dinheiro. “Que Algorta sabia que estava auxiliando uma empresa de forma ilegal, e que deveria dar uma fachada de legalidade às operações. Que Juca e Peter eram responsáveis por contatar, fechar e liquidar as operações de câmbio no mercado paralelo (dólar-cabo) no Uruguai para clientes, no Brasil, utilizando-se da estrutura operacional no Brasil”, seguiu o delator, afirmando que esta casa de câmbio nunca teve autorização do Banco Central do Uruguai para funcionar. “Que posteriormente abriram uma casa de câmbio legalizada, mas que não estava no nome destes. Que se comunicavam inicialmente com os funcionários localizados no Brasil através de programas como MSN com criptografia, SECWAY e um servidor que rodava no programa Citrix, e em um segundo momento através de Skype, Wickr e Wire”, contou Enrico. ‘Juca Bala’ e seu sócio Claudio Souza estão presos no Uruguai, onde aguardam o processo de extradição para o Brasil. Os dois também foram denunciados e se tornaram réus nesta quarta-feira, 8, acusados de organização criminosa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo os pagamentos para Sérgio Cabral e seu grupo no exterior. COM A PALAVRA, A DEFESA DE SÉRGIO CABRAL: A reportagem entrou em contato com o escritório que defende o ex-governador Sérgio Cabral e deixou recado, mas o advogado do peemedebista não retornou. Vinícius Claret está sob custódia da Interpol. MPF o acusa de ter movimentado milhões de dólares em propinas em esquema chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
Por G1, com informações do Jornal Nacional, Brasília
Amante de esportes aquáticos, Vinícius Claret, o homem que vivia uma rotina tranquila como vendedor de pranchas em Punta del Este, no Uruguai, foi ouvido neste sábado (4) pelas autoridades uruguaias junto com o sócio dele, Cláudio Fernando Barbosa.
Eles deixaram o Juizado Especial de Crime Organizado, no centro de Montevidéu, no início da tarde, e vão ficar sob custódia da Interpol até que o Brasil encaminhe o pedido de extradição.
O Ministério Público Federal acusa Vinícius Claret de ser o doleiro que ajudou a movimentar milhões de dólares em propina do esquema chefiado pelo ex-governador do Rio, Sérgio Cabral. Um detalhe na vitrine da loja dele, em Punta del Este, revela que esse pacato vendedor prestava seus serviços também para empresários no Brasil. Ao meio-dia, Vinícius sai da loja. Ele deixa na porta um número de telefone para os clientes entrarem em contato. O Jornal Nacional descobriu que Vinícius Claret não usava esse número só para vender suas pranchas. Também era o contato do doleiro com o setor de operações estruturadas da Odebrecht, mais conhecido como o departamento de propina da empresa. O número do celular na loja de pranchas é o mesmo que aparece na agenda de Maria Lúcia Tavares, ex-secretária da Odebrecht presa na 23ª fase da Operação Lava Jato, em fevereiro no ano passado. A agenda foi apreendida pela Polícia Federal e Maria Lúcia fez acordo de delação, em que revelou como funcionava o esquema de propina na Odebrecht. Na agenda, o número do celular de Claret aparece embaixo dos nomes Juca e Vinícius e da palavra Montevidéu. Os investigadores afirmam que Vinícius era conhecido como Juca Bala. Ao lado do telefone, a indicação de que seria o contato de um escritório. Logo abaixo, um endereço. A sala 248-b, que fica num prédio em Botafogo, na Zona Sul do Rio. As autoridades investigam a propriedade do imóvel. O Ministério Público Federal também quer saber se Vinícius era um dos operadores da conta de nome “Tuta”, que aparece na mesma página da agenda. A Lava Jato descobriu que a Odebrecht mantinha diversas contas secretas para esconder a propina paga em obras públicas. Mais de R$ 1 bilhão foram movimentados dessa forma. Para os investigadores, a empreiteira utilizava doleiros para trazer dinheiro do exterior e financiar a corrupção. Vinícius Claret pode ser um deles. O Jornal Nacional descobriu que ele usou o endereço de uma mansão num dos bairros mais exclusivos de Montevidéu para abrir uma conta num banco local. Uma vizinha confirmou que ele costuma frequentar o imóvel. Em Punta del Este, o endereço é o de um prédio azul que fica de frente para o mar. O Puerto Lobos. Nos três dias em que o Jornal Nacional acompanhou Vinícius Claret, no começo de fevereiro, ele voltava para lá. Segundo uma imobiliária, alugar um apartamento lá no verão pode custar até US$ 9 mil - quase R$ 30 mil. Vinícius Claret é do Rio de Janeiro, mas conseguiu a identidade uruguaia. O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Vinícius Claret e do sócio dele, Claudio Fernando Barbosa. A Odebrecht reafirmou que tem compromisso de colaborar com a Justiça para esclarecer os atos praticados pela companhia. Doleiros suspeitos de envolvimento com esquema de Sérgio Cabral (PMDB) são presos no Uruguai3/3/2017 Vinícius Claret, o Juca Bala, foi citado pelos irmãos Chebar em delação premiada. Segundo MPF, grupo ocultou mais de US$ 100 milhões de propinas no exterior.
Por G1 Rio
Foram presos nesta sexta-feira (3), no Uruguai, dois suspeitos de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro do esquema chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Vinícius Claret, o “Juca Bala”, e Cláudio Fernando Barbosa, sócio dele, foram detidos após pedido da força-tarefa da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, como informou a GloboNews.
Juca Bala foi citado na Operação Calicute pelos irmãos e doleiros Renato e Marcelo Chebar, que fizeram delação premiada e disseram ter ocultado cerca de US$ 100 milhões de Cabral no exterior. Segundo a investigação, os dois chamaram Juca quando a operação de lavagem ficou grande demais.
Juca Bala e Cláudio Barbosa estavam na difusão vermelha da Interpol e foram presos em ação conjunta da polícia do Uruguai com a Polícia Federal brasileira. Em depoimento, Renato Chebar contou que recebia mensalmente de Sérgio Cabral valores entre R$ 50 mil e R$ 250 mil, segundo informação do Jornal Nacional. Com o aumento do volume de dinheiro, as operações no banco de Nova York já não eram suficientes e Chebar precisou comprar dólares no mercado paralelo – e começou a acionar o um doleiro de apelido "Juca". Desde a delação dos irmãos Chebar, as autoridades do Brasil sabiam apenas que o principal doleiro de Cabral tinha o apelido de Juca Bala, que morava no Uruguai e se chamava Vinícius. Vida no Uruguai Antes da prisão, os repórteres Carlos de Lannoy e Arthur Guimarães, do Jornal Nacional, foram a Punta Del Este e acompanharam a rotina de Juca Bala. Ele vivia à beira-mar em área nobre do luxuoso balneário uruguaio. Vinícius aparece como sócio no contrato de criação da empresa Paddle Boards Uruguay, que faz importação, exportação, representação e venda de materiais esportivos e tem uma loja em Punta, um dos balneário mais luxuosos da América Latina. Um produtor do JN esteve na loja e, se passando por um turista brasileiro perdido, conversou com Vinícius. Ele contou que há seis anos importava pranchas no Uruguai. Nos três dias em que acompanhou o movimento da loja, a reportagem só viu um cliente sair com uma prancha. Quando saía da loja, Vinícius Claret ia até um prédio azul a cerca de 200 metros onde, provavelmente, ele e a mulher moram, num dos lugares mais privilegiados de Punta, com apartamentos com vista para o mar. Nos EUA, a ex-mulher de Valdemar Costa Neto diz ter documentos de que Lula e Eduardo Cunha têm diamantes depositados em cofres no Uruguai e Portugal
Germano Oliveira | IstoÉ
A socialite Maria Christina Mendes Caldeira, de 51 anos, sempre viveu um conto de fadas. Filha de empreiteiros, nasceu em berço de ouro. Rica, sempre falou o que quis. Não tem papas na língua. Nunca lavou uma louça, pegou um ônibus ou precisou trabalhar para sobreviver. Cresceu em mansões luxuosas, estudou em escolas caríssimas e viveu cercada por reis e rainhas pelo mundo afora. Até que, em 2004, sua vida mudou. Para pior, claro. Virou um inferno. Conheceu o então deputado Valdemar Costa Neto, que era presidente nacional do PP (hoje PR), com quem se casou. A festa foi num mirabolante cassino em Las Vegas. Valdemar recebia milhões em propinas do mensalão e gastava fortunas em jogatina. O casamento tinha tudo para dar errado. E deu. Maria Christina foi aos poucos deixando as páginas de sociedade para começar a freqüentar noticiosos sobre corrupção em política ou até matérias policialescas.
Valdemar e Maria Christina ficaram casados três anos. Nesse período, ela foi anotando tudo. Dinheiro que o marido recebia de propinas, de quem recebia, sua relação espúria com o então presidente Lula, com os aliados corruptos do PT. Fez um dossiê de Valdemar. Quando o marido caiu nas malhas do mensalão, acusado de ter recebido R$ 40 milhões do PT e embolsado pelo menos uns R$ 10 milhões, Maria Christina, já separada de Valdemar, foi depor no Congresso contra ele. Levou debaixo do braço o dossiê contra o ex-marido. Os dois passaram a se odiar. Trocaram juras de vingança pela imprensa. Maria ajudou a condenar o ex-presidente do PP. Valdemar pegou sete anos e dez meses de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Cumpriu uma parte e outra ficou com tornozeleira em casa. Recebeu indulto do STF em 2015.
Nesse processo para que Valdemar obtivesse o perdão judicial, Maria Christina escreveu cartas a ministros do STF dizendo que o ex-deputado continuava ameaçando-a. Disse que um homem com uma arma a ameaçou na rua dizendo para ela “esquecer o passado”. Hoje Valdemar é um homem livre. Livre, mais ou menos. Maria Christina continua nos seus calcanhares. Diz que Valdemar a ameaça, já fez dezenas de boletins de ocorrência policial contra ele. Valdemar retaliou e até a luz da casa onde Maria Christina morava ele mandou cortar. Maria, assim como Valdemar, ficou anos fora do noticiário. Até que na semana passada Maria Christina reapareceu dizendo que estava de viagem marcada para os Estados Unidos, onde iria morar, com nova identidade e proteção do Departamento de Estado da Justiça dos EUA. Para surpresa geral, disse que tinha dossiês contra o ex-marido, contra o ex-deputado Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara) e contra o ex-presidente Lula. Uma bomba. Disse que Cunha e Lula “ganharam” diamantes em negócios escusos que fizeram na África e os guardaram em cofres em Portugal e no Uruguai. Pode ser uma outra viagem de Maria Christina. Ela disse ter provas. Afirma que ofereceu os documento às autoridades brasileiras, mas ninguém quis garantir sua vida caso divulgasse a papelada toda contra Valdemar, Cunha e Lula. Por isso, ofereceu a documentação aos americanos, que prometem, segundo ela, analisar os dossiês. Ofereceram-lhe segurança. Pediram que ela fosse morar nos Estados Unidos, lhes entregasse os papeis. Recentemente, documentos da Odebrecht sobre a corrupção no Brasil e em outros 12 países foram entregues ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, precipitando o acordo de leniência da empreiteira com o governo americano, suíço e brasileiro. A Odebrecht pagou R$ 7 bilhões em propinas no mundo todo e vai ter que pagar multas aos governos dos 12 países para livrar os executivos de cadeia nos EUA. Maria Christina já está há uma semana nos Estados Unidos. ISTOÉ tentou falar com ela, mas seu celular não atendeu. Sua advogada Maristela Basso também não deu retorno às ligações. Mas o certo é que Maria Christina faz relatos como se Lula e Cunha tivessem agido como Indiana Jones na África, recebendo diamantes como parte das propinas por negócios no Continente. Todo mundo sabe que Lula se empenhou até os dentes para fazer negócios em países africanos, beneficiando empreiteiras como a Odebrecht, que tem grandes interesses por lá, como em Angola e Moçambique, onde se encontram os maiores diamantes do mundo. O ex-deputado Eduardo Cunha, recebeu milhões em propinas em Benin, também na África, onde é acusado de ter intermediado a venda de um campo de petróleo para a Petrobras. Graças à isso está preso na Operação Lava Lato em Curitiba. Segundo Maria Christina, Lula e Cunha teriam guardado esses diamantes em cofres no Uruguai e Portugal. Ela disse ter provas disso. Temendo morrer, afirmou ter guardado os documentos em cinco países diferentes. Só para lembrar, Lula é investigado pela Operação Lava Jato como suspeito de ter negócios no Uruguai. A Operação Lava Jato investiga se ele é dono de uma mansão em Punta Del Este, cidade uruguaia onde estão grandes cassinos latino-americanos. Era lá que o ex-marido de Maria Christina ia jogar com freqüência no tempo em que o PT lhe dava grandes quantias para supostamente abastecer deputados do PP e PR que votavam favoravelmente ao PT na Câmara. Maria Christina é apenas mais uma mulher que pode abrir uma nova frente de investigação a envolver políticos. Antes dela, Cláudia Cunha ajudou a detonar o marido, Eduardo Cunha. Ela gastou R$ 1,8 milhão em cartões de crédito com o dinheiro de propina recebido pelo marido. Comprava sapatos Louboutin, bolsas Vuitton e torrava milhões de reais em hotéis de luxo nos EUA, Europa e Dubai. Já a mulher do ex-governador Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, comprava centenas de jóias. Gastou mais de R 6 milhões em brilhantes, como um colar de R$ 600 mil. No caso de Maria Christina, a evidência poderá ser um colar de diamantes. |
AutorLuiz Maia Histórico
Julho 2017
Categorias
Todos
|